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VALDO CRUZ
Uns trocados pela vida
BRASÍLIA - Triste país aquele que,
envergonhadamente, comemora o
fato de ter apresentado uma queda
menor do que a esperada em sua riqueza. Foi o que presenciamos na semana que passou.
Logo após a divulgação dos dados
sobre o comportamento do PIB brasileiro, indicando que houve um recuo
de 0,73% no primeiro trimestre deste
ano, a sensação em alguns gabinetes
do governo FHC foi de alívio.
Óbvio que cair 0,73% não é tão
ruim quanto despencar 1,6% -o que
alguns analistas chegaram a prever.
Mas infelizmente estamos exatamente nessa situação -de esfregar as
mãos de contentamento quando a
notícia não é tão ruim quanto poderia ser.
Enquanto isso, 16 brasileiros enfrentam um assalto num ônibus em
Campinas. Mais um entre tantos que
acontecem diariamente.
Antes de fugir, os assaltantes mataram friamente três passageiros. O relato de quem escapou é assustador: os
colegas de viagem foram mortos porque não tinham nenhum tostão furado para dar a seus algozes.
Poderíamos dizer, na lógica do pelo-menos-não-foi-tão-ruim, adotada
por alguns tecnocratas, que outros 13
brasileiros que estavam naquele ônibus sobreviveram.
Mas nem eles têm garantia de que
na próxima viagem terão a mesma
sorte. Afinal, aprenderam que andar
de carteira vazia pode ser fatal. O
problema é que ter bolsos recheados
de reais nem sempre depende deles.
Na verdade, enquanto se comemorar em Brasília um resultadozinho
não tão ruim quanto se imaginava
na nossa economia, continuará alta
a probabilidade de mais e mais passageiros andarem de bolsos vazios
em ônibus pelo Brasil afora.
Claro que até em tempos de pujança econômica também estamos expostos à criminalidade -nem sempre associada ao desastre econômico.
Em fases de vacas gordas, no entanto, o risco é bem menor. Na pior das
hipóteses, é sempre possível ter alguns
trocados, que podem valer uma vida.
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