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CARLOS HEITOR CONY
Cheiro de pecado
RIO DE JANEIRO - Os breves instantes em que FHC esteve com o papa
deram-lhe autoridade suficiente para dizer o que é pecado. Daí que, semana passada, assinando aumento
de verbas para a promoção do governo, ele pontificou literalmente: ""Publicidade não é pecado".
Evidente que não é. Gilberto Amado dizia que até Deus precisa de sinos
-no tempo dele não se usava o verbo badalar, que vem exatamente do
badalo de que todo sino dispõe.
Outro que, como FHC, também julgava a publicidade uma decorrência
do Estado moderno chamou-se Adolf
Hitler. A única palavra em alemão
que eu conheço bem é ""propaganda"
-de tanto ouvi-la da boca dos nazistas daquela época, especialmente do
dr. Joseph Goebbels, que era ministro
da própria. O Estado Novo de Vargas
também usou a mesma propaganda
para dar força ao regime.
O aumento nas verbas de promoção coincide com a campanha eleitoral, e todos sabemos que o governo
tem um candidato necessitado de
promoção, uma vez que as pesquisas
até agora lhe são adversas.
Nada contra as campanhas institucionais que se destinam ao esclarecimento da população, como no caso
da economia da energia -que deu
bons resultados. Campanhas contra
a droga, a contaminação da Aids, a
violência urbana e rural -são muitos os itens que justificam o gasto em
publicidade e informação.
Mas não foi pensando nisso que o
governo aumentou sua verba de promoção. Além do pires cívico que está
sendo passado entre empresários e
demais interessados na eleição do
candidato oficial, o governo se abastece de recursos para botar a azeitona na sua própria empada.
O dinheiro público é sagrado. Tanto que o INSS obrigava o ator Mário
Lago, que morreu quinta-feira passada, a devolver todos os meses R$ 600
de sua pensão mal calculada pelo
próprio instituto. Há um cheiro de
pecado nisso tudo.
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