São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Cheiro de pecado

RIO DE JANEIRO - Os breves instantes em que FHC esteve com o papa deram-lhe autoridade suficiente para dizer o que é pecado. Daí que, semana passada, assinando aumento de verbas para a promoção do governo, ele pontificou literalmente: ""Publicidade não é pecado".
Evidente que não é. Gilberto Amado dizia que até Deus precisa de sinos -no tempo dele não se usava o verbo badalar, que vem exatamente do badalo de que todo sino dispõe.
Outro que, como FHC, também julgava a publicidade uma decorrência do Estado moderno chamou-se Adolf Hitler. A única palavra em alemão que eu conheço bem é ""propaganda" -de tanto ouvi-la da boca dos nazistas daquela época, especialmente do dr. Joseph Goebbels, que era ministro da própria. O Estado Novo de Vargas também usou a mesma propaganda para dar força ao regime.
O aumento nas verbas de promoção coincide com a campanha eleitoral, e todos sabemos que o governo tem um candidato necessitado de promoção, uma vez que as pesquisas até agora lhe são adversas.
Nada contra as campanhas institucionais que se destinam ao esclarecimento da população, como no caso da economia da energia -que deu bons resultados. Campanhas contra a droga, a contaminação da Aids, a violência urbana e rural -são muitos os itens que justificam o gasto em publicidade e informação.
Mas não foi pensando nisso que o governo aumentou sua verba de promoção. Além do pires cívico que está sendo passado entre empresários e demais interessados na eleição do candidato oficial, o governo se abastece de recursos para botar a azeitona na sua própria empada.
O dinheiro público é sagrado. Tanto que o INSS obrigava o ator Mário Lago, que morreu quinta-feira passada, a devolver todos os meses R$ 600 de sua pensão mal calculada pelo próprio instituto. Há um cheiro de pecado nisso tudo.



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