São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Sai refém, volta solidariedade

SÃO PAULO - O ministro Celso Amorim conta que sentiu, na hora, que a palavra "refém", usada no contexto das relações Brasil/Argentina, "talvez não fosse a melhor palavra". Mas usou-a, foi puxada para o título da coluna de ontem e, por isso, o chanceler teve o saudável cuidado de telefonar para explicar o que havia acontecido.
Primeiro, diz que "refém" não vale para o conjunto das relações Brasil/Argentina, mas apenas para o aspecto pontual que estava em debate na Organização Mundial do Comércio. Para não aborrecer o leitor com as complicadas tecnicalidades da negociação, traduzo o ponto: para Amorim, a Argentina estava tentando resolver um "problema sistêmico" por meio de um ponto específico.
Por "problema sistêmico", entenda-se a necessidade de recuperar a sua indústria depois de um longo período de devastação. Para isso, precisa de uma proteção tarifária mais elevada. O Brasil sempre se solidarizou com os argentinos nesse aspecto, mas, agora, entendeu que o nível de proteção desejado, no âmbito da OMC, "estava fora do jogo", diz Amorim.
Por isso, a solidariedade brasileira, sempre segundo o chanceler, manter-se-ia, mas no marco do Mercosul, acomodando necessidades mesmo que se criassem "assimetrias" no bloco.
"Vamos continuar a ter solidariedade", jura o ministro.
Por que, então, aceitou uma proposta que não atendia o sócio regional? Amorim diz que sentiu, na hora, que a proposta apresentada por Pascal Lamy, o diretor-geral da OMC, era "a corda esticada ao máximo". O jogo era pegar ou provocar o fracasso da negociação.
O fracasso ocorreu depois, de todo modo, mas o chanceler festeja o fato de que não pode ser atribuído ao desejo de proteger a indústria dos países em desenvolvimento, pelo que o Brasil seria um dos principais acusados.

crossi@uol.com.br


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