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CLÓVIS ROSSI
Sai refém, volta solidariedade
SÃO PAULO - O ministro Celso
Amorim conta que sentiu, na hora,
que a palavra "refém", usada no
contexto das relações Brasil/Argentina, "talvez não fosse a melhor
palavra". Mas usou-a, foi puxada
para o título da coluna de ontem e,
por isso, o chanceler teve o saudável
cuidado de telefonar para explicar o
que havia acontecido.
Primeiro, diz que "refém" não vale para o conjunto das relações Brasil/Argentina, mas apenas para o
aspecto pontual que estava em debate na Organização Mundial do
Comércio. Para não aborrecer o leitor com as complicadas tecnicalidades da negociação, traduzo o ponto:
para Amorim, a Argentina estava
tentando resolver um "problema
sistêmico" por meio de um ponto
específico.
Por "problema sistêmico", entenda-se a necessidade de recuperar a
sua indústria depois de um longo
período de devastação. Para isso,
precisa de uma proteção tarifária
mais elevada. O Brasil sempre se solidarizou com os argentinos nesse
aspecto, mas, agora, entendeu que o
nível de proteção desejado, no âmbito da OMC, "estava fora do jogo",
diz Amorim.
Por isso, a solidariedade brasileira, sempre segundo o chanceler,
manter-se-ia, mas no marco do
Mercosul, acomodando necessidades mesmo que se criassem "assimetrias" no bloco.
"Vamos continuar a ter solidariedade", jura o ministro.
Por que, então, aceitou uma proposta que não atendia o sócio regional? Amorim diz que sentiu, na hora, que a proposta apresentada por
Pascal Lamy, o diretor-geral da
OMC, era "a corda esticada ao máximo". O jogo era pegar ou provocar
o fracasso da negociação.
O fracasso ocorreu depois, de todo modo, mas o chanceler festeja o
fato de que não pode ser atribuído
ao desejo de proteger a indústria
dos países em desenvolvimento,
pelo que o Brasil seria um dos principais acusados.
crossi@uol.com.br
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