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CLÓVIS ROSSI
O Estado não é policial, é frouxo
SÃO PAULO - Dois presidentes,
Gilmar Mendes, do STF, e Garibaldi
Alves, do Senado, viram nos "grampos" em seus telefones um "estado
policialesco".
É precisamente o contrário. Estado policialesco pressupõe um Estado forte, onipresente, hiperativo.
O que existe no Brasil é um Estado
frouxo, inerme, ausente exatamente onde a sua presença é mais
necessária.
Episódios como o dos "grampos"
contra duas das mais altas autoridades da República, para não mencionar Gilberto Carvalho, o mais próximo assessor do presidente Lula,
só demonstram o quanto o atual governo é omisso.
Prova-o a seguinte frase do ministro da Justiça, Tarso Genro, falando precisamente sobre interceptações telefônicas: "Estamos chegando a um ponto em que temos de
nos acostumar com o seguinte: falar
no telefone com a presunção de que
alguém está escutando".
Traduzindo: o chefe da Polícia
Federal, em vez de se indignar -e
agir em conseqüência, o que seria
ainda mais relevante-, prefere
conformar-se com a sua incompetência, impotência, inapetência ou
tudo isso ao mesmo tempo para
controlar atividades que desrespeitam o Estado de Direito.
Fosse menos relapso, o ministro
diria que tomaria todas as providências para que a arapongagem
deixasse de ser tão disseminada e
que os inocentes poderiam ter a
"presunção" de que só são ouvidos
pelos seus interlocutores.
Se seu chefe, o presidente da República, também fosse menos relapso, teria afastado o ministro no
ato, para demonstrar que não compactuava com a omissão do subordinado. Como não o fez, é forçado a
agir tardiamente, punindo o policial, Paulo Lacerda, que foi o símbolo de uma elogiada PF.
Não há símbolo que resista no governo Lula. Cai um após o outro
sempre que qualquer labareda chega perto do presidente.
crossi@uol.com.br
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