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VINICIUS TORRES FREIRE
O bem-amado e a esperança
SÃO PAULO - Jamais tantos brasileiros confiaram tanto em um presidente que elegeram como confiam em
Lula. Na democracia, jamais avaliaram tão bem um governo e um presidente, jamais foram tão otimistas
com a economia e com seu próprio
futuro como fazem sob Lula. É o que
se depreende, não sem algum espanto, de uma leitura honesta da mais
recente pesquisa Datafolha.
Talvez sob Getúlio Vargas tenha
havido maior encanto pelo carisma
de um presidente. Mas então apenas
26% dos brasileiros votavam, contra
os 70% de agora. Talvez tenha havido momentos de grande e evidente
euforia econômica, como no auge da
ditadura militar, quando o país crescia 10% ao ano, ou na grande grande
ilusão do Plano Cruzado.
Mas não houve caso de sucesso de
imagem como o de Lula desde que a
democracia começou de fato no país,
em 1988. Apenas o governo FHC, entre 1996 e 1997, mereceu quase tanta
estima com o de Lula. Mas, sob Itamar/FHC, a economia crescera uns
20%. A inflação caíra do milhar para
a dezena. Havia empregos.
A expectativa de que Lula vá cumprir suas promessas continua tão
grande como no início do mandato.
Lula governa melhor que FHC para
71% dos eleitores. Mesmo os mais ricos e instruídos, os mais críticos, gostam mais do governo petista que dos
tucanos em sua melhor fase.
O maior sucesso de Lula foi controlar a inflação, o que faz diferença para os mais pobres. Passou a sensação
de desastre do fim da era FHC. Ainda
assim, o que faz ricos e pobres, instruídos ou não, capital e interior avaliarem o governo tão bem? Esperança? A esperança é um tipo de alienação. Projeta-se num símbolo a ânsia
por dias melhores.
Apesar das críticas (que, na maioria, circulam entre a mínima elite
que lê jornais), Lula parece estocar
enorme massa de esperança dos cidadãos de várias classes. Trata-se de um
sentimento embebido da forma mais
instável e inflamável de atitude política, a fascinação pelo carisma. O que
será do governo quando (e se?) o dom
divino de Lula cair na real, ou diante
da realidade?
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