UOL




São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

É uma África

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - Lula chega hoje à África para uma viagem que tem caráter simbólico, político e econômico, porque faz parte do esforço brasileiro de ocupar um lugar ao sol entre os países líderes do mundo. Em resumo, é preciso liderar os pobres para poder negociar em conjunto e com mais força com os ricos. O GX na OMC é um laboratório.
Será, porém, uma maratona. Cinco países (São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul) em sete dias, e as distâncias entre um país e outro não são pequenas. Lula fará um discurso político forte daqui, visitará um centro de próteses dali, defenderá projetos grandiosos da Vale do Rio Doce acolá. Tudo rapidinho, para pegar o vôo seguinte.
Em todos os lugares, ele terá encontro com o presidente e/ou primeiro-ministro e falará com tom, voz e jeitão de líder mundial. Mas também recorrerá à origem humilde para tentar disfarçar a arrogância e igualar os dramas e misérias brasileiros (ou latino-americanos) aos africanos. E levará um pacote de bondades.
No quesito simbologia, Lula desembarcará na África por São Tomé e Príncipe só como gesto de boa vontade. O país, uma pequena ilhota, foi o último de língua portuguesa a ter uma embaixada brasileira, que acaba de ser inaugurada.
Ainda nesse quesito, ele falará da importância dos escravos africanos na construção do Brasil e pedirá desculpas pela dívida, até moral, com eles e seus descendentes. A ministra Matilde Ribeiro (Integração Racial) integra a comitiva. Já Benedita da Silva (Assistência Social) anda meio interditada para viagens.
Mas política externa "pró-ativa" não se faz apenas com abraços, discursos e simbologias. Tem de ter grana. É por isso que a melhor notícia de Lula aos africanos é que o Brasil topa acordos de livre comércio bem vantajosas para o "continente amigo".
Quem não tem tu vai de tu mesmo: Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) integra a comitiva, mas Palocci (Fazenda) não quis ou não pôde. Para tristeza do Itamaraty.



Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: O bem-amado e a esperança
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O tenor e o barítono
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.