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CLÓVIS ROSSI
Queria a Lua
PARIS - O título de hoje é roubado
de Pietro Ingrao, veteraníssimo comunista italiano (93 anos), ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Seu livro "Pedía la Luna" está sendo
lançado agora na Espanha, depois
de ter saído na Itália.
Explica o título o próprio Ingrao,
em entrevista publicada sábado por
Babélia, o suplemento cultural do
jornal "El País":
"Na minha terra [Lenola, região
do Lázio], nas grandes noites estreladas de verão e primavera, dá a impressão de que se pode pegar a Lua, quando sai entre as montanhas.
Quando pequeno, queria pegá-la,
como contei em um livro."
"Uma noite, na hora de ir para a
cama, não queria fazer pipi, como
fazia sempre, e minha mãe, um
pouco desesperada, chamou meu
pai, que me disse, brincando: O que
você quer de presente para fazer pipi? Olhando pela janela na direção
do vale e das montanhas, vi a Lua
brilhando sugestivamente e lhe disse: Quero a Lua".
"Assim, a Lua se converteu em
símbolo de algo muito bonito que
não se consegue agarrar."
Ingrao cresceu e escolheu uma
nova Lua para perseguir: o comunismo como "símbolo de algo muito bonito". Pode-se odiar a sua escolha, que ele, aliás, admite ter sido
um fracasso. Mas não dá para negar
que o mundo moderno tornou-se
esquivo demais à busca da Lua,
qualquer Lua.
Há muita gente, suponho, que
tem lá suas "luas" individuais ou coletivas. O time de futebol da Espanha que acaba de ganhar a Eurocopa, após 44 anos, assumiu um slogan mercadológico e provou que
"impossible is nothing".
O que quero dizer é que no mundo político -e, por extensão, na administração de países, cidades, Estados, regiões-, já não se vê ninguém querendo agarrar a Lua. Na
melhor das hipóteses, administram
o possível, nada mais. Talvez, se
quisessem a Lua, iriam algo além do
possível. Talvez.
crossi@uol.com.br
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