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ELIANE CANTANHÊDE
Nelson Mandela de saias
BRASÍLIA - Coincidências existem? Nem sempre. Ou quase nunca. Ninguém nos EUA havia entendido muito bem a ida de John
McCain para a Colômbia em plena
campanha eleitoral americana. E
agora ninguém no Brasil (e provavelmente no resto do mundo) entende por que ele estava no país justamente no dia em que Ingrid Betancourt foi libertada de um cativeiro de mais de seis anos, junto
com três americanos do Departamento de Defesa.
Será mesmo pura coincidência?
McCain é republicano, como o presidente George W. Bush. O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, é
o maior aliado, politico, econômico
e sobretudo militar dos EUA em toda a América do Sul. E as operações
de inteligência que libertaram os
reféns foram, como de resto são todas as demais, combinadas entre
Bogotá e Washington.
Como detalhe: McCain está atrás
do democrata Barack Obama nas
pesquisas da eleição norte-americana, precisa de "mágicas". E muito
mais do que mero detalhe: Uribe foi
eleito quando Ingrid Betancourt
era candidata e acabou seqüestrada
pelas Farc, já foi reeleito e está todo
alvoroçado para introduzir de fato o
terceiro mandato consecutivo no
continente.
Se a libertação de Clara Rojas e de
Consuelo Gonzalez em janeiro foi
uma super-vitória do venezuelano
Hugo Chávez, a de Ingrid Betancourt fica na conta de Uribe, com
um enorme saldo político e eleitoral num momento chave da Colômbia e dos EUA.
Mas, de outro lado, Uribe passa a
conviver com um belo e provocante
fantasma contra o continuismo: a
própria Ingrid, que surge do cativeiro como um Nelson Mandela de
saias. Ela já deixou claro que quer
ser candidata.
O resto da história ainda precisa
ser muito bem contado, na base do
quem, como, onde e, principalmente, por que. E, afinal, que raios
McCain estava realmente fazendo
na Colômbia?
elianec@uol.com.br
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