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O MURO DE SHARON
Em encontro com o presidente George W. Bush na Casa
Branca, o premiê Ariel Sharon reiterou na terça-feira que Israel continuará a construir a barreira entre seu
território e as terras palestinas.
Muro em alguns trechos, cerca eletrificada em outros, a obra teve início
há um ano e deverá estender-se por
350 km. Por incorporar ao lado israelense parte dos assentamentos judaicos situados em território palestino,
ela é considerada um dos principais
entraves à recém-nascida negociação
de paz patrocinada por Washington.
Israel argumenta que a Autoridade
Nacional Palestina nada tem feito para desmantelar grupos extremistas,
uma das exigências do "mapa da estrada". O muro seria, então, necessário para dificultar a entrada de terroristas em território israelense.
Os palestinos, por sua vez, entendem o projeto como uma anexação
de terras. Reportagem do "Financial
Times" reproduzida pela Folha na
quarta-feira estima em 10% a perda
de território da Cisjordânia com o
traçado da obra. Esse texto chama a
atenção para os problemas criados
pelo muro a partir do exemplo de
Nu'man, pequena aldeia palestina
muito próxima à colônia judaica de
Har Homa. Quando a construção
for concluída, os moradores de
Nu'man estarão do lado israelense,
mas sem direito de lá permanecer.
Respaldado por amplo apoio popular à edificação, Sharon enfrenta,
no entanto, a desaprovação, ora clara, ora velada, dos EUA, que não
querem ver seu plano de paz desmoronar ainda nos estágios iniciais.
Ao receber na semana passada o
premiê palestino, Mahmoud Abbas,
mais conhecido como Abu Mazen,
Bush criticou abertamente a obra israelense. Não repetiu a dose ao lado
de Sharon, mas, no que foi entendido como uma referência ao muro,
afirmou que o premiê deve "considerar cuidadosamente todas as consequências das ações de Israel".
"A cerca fortalecerá a segurança",
disse Sharon. "E a segurança ajuda a
alcançarmos a paz." Dois dias depois dessa declaração, o premiê
anunciou a expansão do maior assentamento judaico na faixa de Gaza. Não obstante a necessidade israelense de se defender, é altamente improvável, para não dizer impossível,
que o muro venha a contribuir para
a paz. Simultaneamente à contenção
da violência de ambos os lados,
avanços mais efetivos nessa direção
exigem o desarmamento das organizações terroristas e a retirada -não
o avanço- das forças e dos colonos
de Israel dos territórios ocupados.
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