|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O choque
SÃO PAULO - É possível que as más notícias da sexta-feira (dólar, risco-
país, Bolsa) não se repitam nos próximos dias. Ainda assim, servem de
lembrete, poderoso lembrete, sobre o
erro conceitual cometido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao manter e, pior, aprofundar a política econômica anterior, o governo
justificou-se dizendo que era preciso
um "choque de credibilidade", ante a
situação falimentar encontrada, para recuperar a confiança dos mercados. Pena que:
1) O mercado financeiro não outorga certificados de confiança. Quer lucro. Ou, como escreveu Luís Nassif
ontem, "não analisa países sob a ótica de que os fundamentos estão bons
ou maus, mas se o país está barato ou
caro". Simples assim.
2) Um país nunca fica barato ou
caro para sempre aos olhos dos mercados. Portanto não há a menor hipótese de que a tal credibilidade que
o governo queria conquistar possa
ser obtida para sempre. Acalmar os
mercados exige doses diárias de sangue (do país) e de lucro (dos operadores). Não há a menor filosofia nessa história, há uma incessante busca
do mais fulgurante rendimento possível no menor espaço de tempo possível.
3) Na hora em que os mercados
atacam, como o fizeram sexta-feira,
não há defesa.
O país continua, antes como depois
do suposto "choque de credibilidade", com a mesma vulnerabilidade.
Na verdade, está em situação pior,
porque a economia real se deteriorou, o desemprego aumentou, a tensão social, por extensão, tornou-se
ainda mais aguda e a paciência do
público diminuiu.
Repito: é até possível que não houvesse mesmo outro caminho que não
repetir, radicalizando-a, a política
anterior. Mas, ante as evidências de
que ela também não funciona, ou se
pensa (e rapidamente) em alguma
alternativa ou o choque de credibilidade vai virar apenas choque e eletrocutar o governo.
Texto Anterior: Editoriais: O MURO DE SHARON Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Me engana que eu gosto Índice
|