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CARLOS HEITOR CONY
Receitas para sair da lama
RIO DE JANEIRO - Quando um país cai num atoleiro, só há duas maneiras de tirá-lo da lama. Um deles, o da
revolução, custa muito sangue até
que a nova ordem, se for realmente
boa, comece a dar resultados.
O outro meio é encarar o atoleiro,
descerem todos do carro e quebrarem
o galho trazendo tábuas, folhagens, o
que for possível, para livrar a roda da
lama que a entrava. Numa palavra:
o trabalho, a mão-de-obra que obriga todos a saltaram do carro e procurarem o que fazer com as mãos e o
suor para vencer a lama.
Por respeitáveis motivos, o exemplo
do primeiro ano do nazismo no poder, em 1933, não costuma ser lembrado. O horror final da guerra e dos
campos de extermínio obscureceu a
solução encontrada para tirar a República de Weimar do atoleiro: o trabalho. Desceram do carro, foram ver
o que podiam fazer de imediato, o
desemprego diminuiu, a inflação
baixou. Um amigo, judeu polonês
que vivia na Alemanha, levou meses
abrindo uma estrada na qual só passariam carros 15 anos depois, e carros
de combate dos russos que conquistariam Berlim. As grandes "reformas"
que levariam a Alemanha ao desastre e a cobririam de opróbrio vieram
depois, e aos poucos.
O exemplo talvez nem devesse ser
citado, mas tivemos aqui no Brasil
um presidente que nada reformou,
aceitou as limitações da Constituição
castradora do Poder Executivo, a de
1946, enfrentou dívidas enormes, inflação em processo, graves crises políticas e duas sedições militares. Mas,
sem nenhum cunho ideológico, abriu
tantas frentes de trabalho que, como
disse Maria Victoria Benevides, alterou o status quo da economia e da sociedade brasileira, sem dar um tiro, e
com as garantias democráticas em
vigor.
Outro dia, lembrei o espírito reformista dos últimos anos do governo
Goulart. O país parou, só se pensava
em reformar isso e aquilo, nada deveria ser feito enquanto não se mudassem as regras do Estado. Deu no que
deu.
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