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CLÓVIS ROSSI
Farinha do mesmo saco
SÃO PAULO - Não creio que você, leitor, tenha feito um "oh" de espanto
com o fato de o Congresso Nacional
ter tido uma avaliação tão negativa
em pesquisa do Datafolha publicada
na sexta-feira (só 24% de ótimo/bom,
menos da metade dos 57% que esperavam o melhor dos parlamentares
eleitos em 2002).
O desprestígio dos congressistas já
pode ser tido como histórico -talvez
por se tratar do Poder mais exposto e
mais devassado pela mídia. Pena que
não seja esse o único fator a pesar
contra a boa imagem de deputados e
senadores. Eles próprios dão formidável contribuição para serem tão
mal avaliados.
O que torna a pesquisa particularmente inquietante é o fato de que, pela primeira vez, há uma maioria de
deputados -ainda que relativa-
composta por gente do PT, o partido
que fingiu durante toda a sua história ter o monopólio das virtudes republicanas. Se nem esses conseguem
reverter a imagem do Parlamento,
não vai ser fácil restaurá-la, porque
todos os partidos relevantes já foram
maioria ou fizeram parte das coalizões governantes -e, em todos esses
momentos, o julgamento do Congresso não foi exatamente brilhante.
Mas não deveria haver surpresa.
Logo nos primeiros meses da nova
gestão na Câmara, a cargo do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), esta
Folha mostrou que haviam sido contratados sem concurso cerca de 2.000
funcionários para, na verdade, servir
de suporte político-eleitoral para líderes e para membros da Mesa.
O próprio Cunha admite que, se todos os 2.000 comparecerem simultaneamente ao trabalho, não haverá
lugar para todos.
Não obstante, o presidente da Câmara defende, sem pudor nenhum,
semelhante maracutaia, assim como
as demais que estão surgindo mais recentemente no noticiário.
Um político novo, de um partido
que se diz a favor da mudança, apenas põe a mão no poder e revela-se farinha do mesmo saco, do saco que ele
próprio e o PT passaram a vida criticando. Desse jeito, não há mesmo
imagem que se salve.
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