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RECALQUE MONETARISTA
A consolidação da vantagem
do candidato Lula nas eleições
coincidiu com a cristalização da propaganda que propunha aos eleitores
a oposição entre dois estados de espírito: o medo e a esperança.
Mas o governo Lula é, no plano das
emoções e no das políticas, um modelo de timidez, para dizer o menos.
O medo de afugentar capitais parece justificar não apenas a manutenção da política econômica do governo FHC mas também uma radicalização do seu viés monetarista.
Nas últimas semanas, o medo de
mudar ficou mais forte. Como que
aperfeiçoando o retorno ao passado
recente, a política econômica vem
reencenando a lógica perversa da valorização do real a título de debelar
ameaças inflacionárias ou de dar
provas de recuperação da confiança
dos mercados no governo brasileiro.
Sigmund Freud, estudioso de fobias e obsessões, ressaltava que esses
distúrbios têm sempre como origem
algum recalque, uma repressão de
estados de ânimo que reaparecem de
modo alterado ou invertido.
A técnica freudiana aplica-se bem a
Lula e ao PT. Na origem, um desejo
infantil, irrealizável, de transformar
completamente o capitalismo, de repudiar o FMI e o mercado, de negar a
globalização. Mas a fantasia recalcada acaba por produzir, na prática da
cúpula petista que finalmente chega
ao poder, uma adesão também
doentia a tudo o que antes repudiava.
Assim, se Lula e o PT venceram o
medo, sucumbiram à culpa por terem desejado um Brasil socialista.
O sentimento de culpa produz não
só a substituição do sonho revolucionário pelo adesismo obsessivo e conservador mas uma fobia a qualquer
ato ou discurso que vislumbre projetos econômicos alternativos.
Consolida-se desse modo uma intensa fobia à discussão, à elaboração
e à implementação de um projeto nacional de desenvolvimento, amparado numa política menos dependente
dos mercados financeiros.
Como sublinhou o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, o próprio Lula já está vindo a público para
corrigir declarações suas sobre o
modelo cambial que estariam sendo
mal interpretadas -ou levadas a sério, quando seriam brincadeiras.
Nos corretivos que aplicam a Lula,
ora Palocci, ora Henrique Meirelles,
no Banco Central, insistem na importância de evitar qualquer sinal
que dê sentido à política econômica.
É o mercado que levará a taxa de
câmbio ao "equilíbrio econômico".
Como ocorria no governo FHC, as
tentativas de sinalização de longo
prazo acabam sendo abortadas em
nome da supremacia do mercado financeiro como indicador dos rumos
da economia. Qualquer orientação
de governo é considerada um anátema para os guardiães do mercado.
A fobia a projetos tem como regra a
censura a tudo o que não seja defesa
obsessiva, permanente e prioritária
dos interesses dos credores, nacionais e estrangeiros, da moeda supostamente forte de um Estado fraco.
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