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CLÓVIS ROSSI
Juros e búzios
SÃO PAULO- Aumentar as taxas de juros é o único caminho para derrubar a inflação, certo? A sabedoria
convencional diria sim. Mas as estatísticas respondem não.
O leitor Jacques Dezelin mergulhou
em um alentado estudo publicado
pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 1999, que examinou 1.323
casos de 119 países.
Na maioria absoluta dos casos, a
inflação caiu, tenha o respectivo Banco Central aumentado, diminuído ou
mantido a taxa de juros.
A maior porcentagem de êxito (ou
seja, de casos em que a inflação caiu)
se deu justamente quando o BC reduziu os juros. Nesse caso, a porcentagem de sucesso vai a 62,18% dos 476
casos examinados, contra 50,75%
dos 398 casos em que a inflação caiu
quando a taxa de juros aumentou.
Mais: a segunda maior porcentagem de sucesso se deu quando não se
mexeu nos juros (53,45%).
O período coberto pelo estudo vai
de 1982 e 1998, tempo suficiente, portanto, para fornecer evidências estatísticas que permitam conclusões relativamente seguras.
A conclusão do leitor é esta: "O que
os dados estatísticos do FMI apontam é o caráter meramente aleatório
da relação (ou melhor, a ausência de
relação) entre a variação da taxa de
juros fixada pelo Banco Central e a
inflação".
É uma afirmação tão temerária
quanto assumir, como fazem os economistas ortodoxos e, a bem da verdade, a grande maioria de todos os
demais, que é sempre necessário e até
inevitável aumentar os juros para
combater a inflação.
Talvez o mais lógico seja examinar
caso a caso, país a país, circunstância
a circunstância. Ou, posto de outra
forma, aumentar os juros como reflexo condicionado, como fez o BC brasileiro este ano, pode ser tão científico
quanto jogar os búzios.
PS - O ministro Luiz Dulci queixa-
se da expressão "desonestidade argumentativa" usada neste espaço para
comentar frases suas. O argumento
do ministro era de fato muito ruim,
mas não é justo acusá-lo de desonestidade, de qualquer tipo.
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