UOL




São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Juros e búzios

SÃO PAULO- Aumentar as taxas de juros é o único caminho para derrubar a inflação, certo? A sabedoria convencional diria sim. Mas as estatísticas respondem não.
O leitor Jacques Dezelin mergulhou em um alentado estudo publicado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 1999, que examinou 1.323 casos de 119 países.
Na maioria absoluta dos casos, a inflação caiu, tenha o respectivo Banco Central aumentado, diminuído ou mantido a taxa de juros.
A maior porcentagem de êxito (ou seja, de casos em que a inflação caiu) se deu justamente quando o BC reduziu os juros. Nesse caso, a porcentagem de sucesso vai a 62,18% dos 476 casos examinados, contra 50,75% dos 398 casos em que a inflação caiu quando a taxa de juros aumentou.
Mais: a segunda maior porcentagem de sucesso se deu quando não se mexeu nos juros (53,45%).
O período coberto pelo estudo vai de 1982 e 1998, tempo suficiente, portanto, para fornecer evidências estatísticas que permitam conclusões relativamente seguras.
A conclusão do leitor é esta: "O que os dados estatísticos do FMI apontam é o caráter meramente aleatório da relação (ou melhor, a ausência de relação) entre a variação da taxa de juros fixada pelo Banco Central e a inflação".
É uma afirmação tão temerária quanto assumir, como fazem os economistas ortodoxos e, a bem da verdade, a grande maioria de todos os demais, que é sempre necessário e até inevitável aumentar os juros para combater a inflação.
Talvez o mais lógico seja examinar caso a caso, país a país, circunstância a circunstância. Ou, posto de outra forma, aumentar os juros como reflexo condicionado, como fez o BC brasileiro este ano, pode ser tão científico quanto jogar os búzios.
PS - O ministro Luiz Dulci queixa- se da expressão "desonestidade argumentativa" usada neste espaço para comentar frases suas. O argumento do ministro era de fato muito ruim, mas não é justo acusá-lo de desonestidade, de qualquer tipo.



Texto Anterior: Editoriais: RECALQUE MONETARISTA

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Quem avisa amigo não é
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.