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CLÓVIS ROSSI
Três longos meses
SÃO PAULO - Vista do planalto Central, a sede do governo, a crise financeira dificilmente amainará pelos
próximos três longos meses, até que,
no dia 27 de outubro, se saiba quem
assumirá o lugar de Fernando Henrique Cardoso.
O raciocínio ouvido pela Folha é
simples: por circunstâncias tanto externas como internas, o investidor
não está disposto a correr riscos.
Mas, dentro de três meses, haverá
um novo presidente, que forçosamente terá de dizer a que veio, eliminando as ambiguidades inevitáveis
em época eleitoral.
Aí será o tempo de o investidor decidir se fica, se volta ou se dá de vez as
costas ao país. É claro que circunstâncias externas contribuirão para
essa decisão, como já estão contribuindo para a crise de confiança no
Brasil. Mas não há espaço para listá-las e explicá-las.
Fiquemos, pois, nos fatores internos. Para o governo, os investidores
misturam as necessidades de financiamento do Brasil, confundindo dívida externa e dívida interna.
Ignoram, sempre na visão oficial,
que até o fim do ano já está coberta a
necessidade de financiamento externo do setor público (do setor privado,
não, é bom que se diga). Mas o investidor acha que haverá dificuldade
para rolar a dívida interna, "o que
nunca aconteceu na história", sempre segundo o que a Folha ouviu no
governo.
Seja como for, para cobrir os três
longos meses até a definição do novo
presidente, restou apenas o recurso
velho de guerra ao Fundo Monetário
Internacional. Mas o governo não
combinou com os russos, digo, com
os candidatos, por achar que estes
não teriam alternativa a não ser
aceitar a extensão do acordo com o
FMI.
Não está sendo exatamente assim,
mas o Planalto continua apostando
que "ou manifestam algum tipo de
apoio ou pagam o preço".
É em torno desse, digamos, dilema
que se fará o jogo político nos próximos dias ou semanas.
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