São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Longe da realidade

SÃO PAULO - Faz tempo que venho propondo inutilmente a criação da figura do "chato de plantão", com assento no Palácio do Planalto e com a mais completa estabilidade no emprego. Seria o cidadão capaz de, no fim do dia, na "happy hour" do poder, dizer ao presidente: "Que besteira que você disse (ou fez) hoje".
Esse cargo está se tornando de muita urgência neste governo, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra com freqüência excessiva falta de sintonia com a realidade e demasiada autocomplacência (êpa, também preciso de um "chato de plantão" por estar, talvez, usando um eufemismo).
Sobre falta de sintonia com a realidade dá prova definitiva o comentário recente de Lula sobre a suposta conspiração dos países ricos para que o Brasil não faça parte do G8, o clubão dos sete países mais ricos do mundo a que se juntou recentemente a Rússia. Para Lula, o G8 só foi criado depois que o Brasil deixou de ser a oitava economia do mundo.
Bobagem pura, presidente. Jamais os líderes do G8 se preocuparam em conspirar para evitar a presença do Brasil. Nem precisavam, aliás, porque o país insiste em conspirar contra ele próprio faz uns 500 anos mais ou menos. Algum chato poderia arriscar-se a contar ao presidente qual são a história e as preocupações do G8, para evitar declarações que correm o risco de virar folclóricas, pelo desconhecimento que revelam.
Agora, Lula teve um ataque de inchaço de ego, ao afirmar que sua eleição foi uma vitória importante "na história da humanidade". Ainda que tivesse sido, qualquer manual básico de bom senso diria que não cabe a ele fazer tal julgamento.
Se eu fosse o tal "chato de plantão", faria ao presidente a mesma comparação que ele faz com o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima. Lula está até agora no ponto em que Vanderlei se achava no momento em que foi agarrado pelo maluco irlandês, ou seja, correndo para ganhar. Só depois que terminar a corrida é que terá direito (ou não) à medalha de "importante para o Brasil".


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