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CLÓVIS ROSSI
Longe da realidade
SÃO PAULO - Faz tempo que venho propondo inutilmente a criação da
figura do "chato de plantão", com assento no Palácio do Planalto e com a
mais completa estabilidade no emprego. Seria o cidadão capaz de, no
fim do dia, na "happy hour" do poder, dizer ao presidente: "Que besteira que você disse (ou fez) hoje".
Esse cargo está se tornando de muita urgência neste governo, porque o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
demonstra com freqüência excessiva
falta de sintonia com a realidade e
demasiada autocomplacência (êpa,
também preciso de um "chato de
plantão" por estar, talvez, usando
um eufemismo).
Sobre falta de sintonia com a realidade dá prova definitiva o comentário recente de Lula sobre a suposta
conspiração dos países ricos para que
o Brasil não faça parte do G8, o clubão dos sete países mais ricos do
mundo a que se juntou recentemente
a Rússia. Para Lula, o G8 só foi criado
depois que o Brasil deixou de ser a oitava economia do mundo.
Bobagem pura, presidente. Jamais
os líderes do G8 se preocuparam em
conspirar para evitar a presença do
Brasil. Nem precisavam, aliás, porque o país insiste em conspirar contra
ele próprio faz uns 500 anos mais ou
menos. Algum chato poderia arriscar-se a contar ao presidente qual são
a história e as preocupações do G8,
para evitar declarações que correm o
risco de virar folclóricas, pelo desconhecimento que revelam.
Agora, Lula teve um ataque de inchaço de ego, ao afirmar que sua eleição foi uma vitória importante "na
história da humanidade". Ainda que
tivesse sido, qualquer manual básico
de bom senso diria que não cabe a ele
fazer tal julgamento.
Se eu fosse o tal "chato de plantão",
faria ao presidente a mesma comparação que ele faz com o maratonista
Vanderlei Cordeiro de Lima. Lula está até agora no ponto em que Vanderlei se achava no momento em que
foi agarrado pelo maluco irlandês, ou
seja, correndo para ganhar. Só depois
que terminar a corrida é que terá direito (ou não) à medalha de "importante para o Brasil".
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