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ELIANE CANTANHÊDE
Ossos do ofício
BRASÍLIA - Comandante das forças de paz da ONU no Haiti, o Brasil
mandou 1.200 militares para aquele
país. Foi uma bela jogada no campeonato de marketing internacional,
reforçada pela partida da seleção
brasileira com a presença de Lula.
Essa era a boa notícia. A má vem
agora, quando três grupos armados
do país começam a se movimentar e
ocupar posições. São eles: remanescentes do extinto Exército haitiano,
gangues anárquicas e os "chimeres",
partidários do presidente deposto,
Jean-Bertrand Aristide.
Por enquanto a situação é tranqüila na capital, Porto Príncipe, que está
sob a responsabilidade direta das tropas brasileiras. Mas o país está destruído, a miséria é assustadora e a
violência paira no ar. A confusão se
delineia ao sul e ao norte, com o deslocamento de tanques e efetivos.
Os brasileiros podem ter ido felizes
da vida para uma missão "de paz",
mas caído numa guerra. E os soldados, que pareciam preparados para
tarefas de relações públicas, discutindo futebol, Carnaval e mulatas com a
população local, podem ser chamados a pegar em armas.
Não dá para o Brasil pedir desculpas, alegar que não entendeu direito
o espírito da coisa e tirar o corpo fora.
Se os ânimos esquentarem e os grupos armados passarem a ocupar cidades e a ameaçar cidadãos, é ir à luta e seja o que Deus quiser.
O ministro da Defesa, José Viegas,
diz que são "ossos do ofício" e que "o
risco é inerente à atividade militar".
Mas o embaixador José Viegas deve
saber que há riscos de outra ordem,
inclusive políticos. Se um soldado
brasileiro morrer no Haiti, não vai
faltar quem se pergunte o que ele, soldado, estava fazendo ali. E a pergunta vai ser amplificada, inclusive por
setores do PT, nas tribunas do Congresso e nas páginas dos jornais.
Entre tantas outras qualidades, Lula é um homem de sorte. Tem estrela,
e não apenas a estrela do PT. Pois
que ele tenha muita sorte para que o
Haiti não vire novamente uma praça
de guerra. E para que nenhum brasileiro morra a tiros por lá.
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