|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Debalde
RIO DE JANEIRO - Nos últimos
anos, o Brasil não tem dado boa vida
aos fumantes. Ficou proibido fumar na maioria dos recintos, entre
os quais aqueles em que a medida é
acertada -aviões, táxis, elevadores,
salas de espera, consultórios, escolas, bibliotecas, hospitais, creches,
lactários. E em outros que a razão
não alcança, como cafés, botequins
e escritórios, que tiveram de
restringir o fumo, confinando-o nos
fumódromos.
A razão não alcança, mas a sociedade submeteu-se a essas restrições. Os fumantes recolheram-se à
sua condição de cidadãos de terceira classe e foram fumar nos espaços
que lhes restaram. Debalde. O governo de São Paulo e a Prefeitura do
Rio tentam agora tomar esses espaços, proibindo o cigarro em qualquer área interna e, na prática, fechando os fumódromos. Para esses
governos, não basta banir o fumo, é
preciso banir o fumante.
Além de ser proibido fumar, ficou
proibido também ser contra a medida. Qualquer tentativa de racionalização que pareça, mesmo de
longe, a favor do fumo provoca em
resposta uma secreção desproporcional de espuma e bile. O ódio ao
cigarro (a essa altura, exercido pela
maioria) nega à minoria de fumantes um mínimo de direitos, inclusive o de se defender.
Ódio ao cigarro comercial, bem
entendido -porque o lobby da maconha continua a pregar sua descriminalização, como se ela fosse ingerida na forma de pirulitos ou jujubas, e não de um cigarro a ser queimado, tragado e expelido, tal qual o
industrializado. Ninguém se preocupa com os fumantes passivos
de maconha?
Resta saber o que os fiscais farão
em ambientes como boates, discotecas e festas rave. Já posso ver o
responsável sendo autuado por
permitir que seus clientes fumem
Marlboro em vez de se limitarem à
birita, ao ecstasy e à cocaína.
Texto Anterior: St. Paul, Minnesota - Fernando Rodrigues: Disputa aberta nos EUA Próximo Texto: Gustavo Franco: Machado comunista Índice
|