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ESTUPIDEZ
É um insulto à inteligência dos
cidadãos a estapafúrdia versão,
sustentada por agentes penitenciários, de que o chinês naturalizado
brasileiro Chan Kim Chang morreu
em consequência de lesões que provocou em si mesmo durante um surto psicótico. Chang estava sob custódia nas dependências do presídio estadual fluminense Ary Franco, preso
apenas por ter deixado de declarar
que estava saindo do país portando
mais de US$ 10 mil.
É preciso muito boa vontade para
acreditar que esse tipo de ação policial realmente combata a evasão de
divisas. Vale lembrar que qualquer
um pode remeter quantidades muito
maiores -legalmente e sem riscos- através do sistema financeiro.
A exigência de declaração nos aeroportos pode até constituir-se num
controle útil para a Receita Federal,
mas, por não serem devidamente informados, muitos viajantes deixam
de cumprir a norma. Se apanhados,
como o foi Chang, ficam, aí sim, à
mercê de policiais nem sempre bem-intencionados.
Ainda não se sabe ao certo o que
aconteceu com Chang entre sua prisão no aeroporto e sua remoção para
o Hospital Municipal Salgado Filho,
no Rio de Janeiro, mas há fortes indícios de que tenha sido espancado.
Não é preciso muita imaginação para especular as razões para tanto.
Tortura, violência, corrupção e extorsão fazem parte do cotidiano de delegacias e presídios brasileiros.
A escandalosa morte de Chang não
é, infelizmente, um caso isolado.
Nestes últimos dias, também ganharam as páginas dos jornais duas outras histórias escabrosas. O garçom
Valdinei Sabino da Silva foi arbitrariamente preso acusado de participação na morte do empresário José
Nelson Schincariol no mês passado.
Como ficou demonstrado depois, ele
nada tinha a ver com o assassinato. A
inocência, contudo, não o impediu
de ser agredido para confessar a autoria do crime, como agora relatam
familiares da vítima.
Também é nebuloso o caso do fisiculturista Anderson Rodrigues Teixeira, morto sob custódia de policiais
civis em Belo Horizonte. Uma testemunha diz ter visto um policial agredir Teixeira com um par de algemas,
ameaçando-o de morte. O episódio é
investigado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa mineira.
Essas histórias partilham uma matriz comum. O despreparo das polícias e de agentes ligados à área de segurança. Ainda que com exceções, as
polícias brasileiras são incompetentes e violentas. Um de seus principais
métodos de investigação continua
sendo a tortura. Com baixos salários
e sem perspectivas, muitos agentes
engrossam as fileiras do crime. Enquanto não houver coragem para
abrir e reformular essa caixa-preta,
enquanto não forem separados os
bons dos maus funcionários e policiais, tentativas de equacionar o problema da segurança pública continuarão condenadas ao fracasso.
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