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CLÓVIS ROSSI
Festa boba
SÃO PAULO - Quer dizer, então, que todo o carnaval em torno da reforma
tributária foi extemporâneo?
É a única conclusão possível quando se ouve o ministro-chefe da Casa
Civil, José Dirceu, dizer que "a emenda vai ser aperfeiçoada no Senado".
Mais: é no Senado, sempre segundo
Dirceu, que se "discute melhor a
questão do ICMS, da transição e dos
fundos". Ou seja, tudo "se discute melhor" no Senado.
Então os governistas que fizeram
aquela baita festa devido à aprovação da reforma tributária na Câmara são uns tolinhos?
Se a reforma vai ser aperfeiçoada
no Senado, qual é a lógica de tentar
passar um rolo compressor na Câmara para aprová-la? Só Deus sabe, mas
eu tenho duas hipóteses:
1 - O governo não sabe lá muito
bem o que está fazendo. Hipótese reforçada pelo ziguezague do Planejamento nas previsões sobre o crescimento da economia: numa semana,
seria de 1,8%, conforme a proposta
orçamentária. Na semana seguinte,
caiu para a metade (0,9%).
Se o Planejamento planeja tão bem
como faz previsões sobre o que de fato
interessa (o crescimento econômico),
sai de baixo.
2 - O governo gira em torno de si
mesmo, na seguinte lógica: como
quase todo mundo dizia, em especial
os fatores de poder, que as reformas
eram indispensáveis, matou-se para
aprová-las.
Se as reformas são boas ou ruins, se
o Senado é melhor para discutir uma
(por que não a outra?), não interessa.
Ao aprovar as reformas, quaisquer
que sejam, o governo fica forte. Se o
país fica igualmente forte ou não, se o
público ganha ou não, é irrelevante
para essa lógica.
O presidente vive se gabando de
que se enganaram todos os que previram um baita fracasso do PT no governo e imaginaram que viria o caos.
Como essa mesma gente estava na linha da frente da pregação pelas reformas, dá para deduzir que o governo governa não para os que nele votaram, mas para desmentir os que
nele não acreditavam.
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