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VALDO CRUZ
Sem final
BRASÍLIA - A grampolândia deu
pane no governo Lula. Fosse nos
velhos tempos, diria que ele se
enrolou nos fios das escutas telefônicas. Mas isso é coisa do passado.
As novas tecnologias banalizaram a
bisbilhotagem da vida alheia e uma
delas fez a equipe presidencial bater cabeça nos últimos dias.
Se fosse para resumir, diria que
Nelson Jobim denunciou, Lula se
assustou, Paulo Lacerda dançou e
Jorge Felix se esquivou. Tudo por
causa de uma maletinha, tipo 007,
recheada de mecanismos de escuta
telefônica e ambiental.
O ministro da Defesa chegou a ser
celebrado dentro do Planalto como
o salvador da pátria. Aquele que deu
xeque-mate na turma da inteligência e levou Lula a colocar na geladeira o diretor-geral da Abin, Paulo
Lacerda. Até parecia que a crise estava solucionada ali, depois que Jobim contou ao presidente que a
Abin tinha a engenhoca tão desejada pelos arapongas. Que nada. A
confusão só estava no início.
Depois o Exército, teoricamente
subordinado a Jobim, disse que
não, o ministro insistiu que sim, fizeram um laudo meio assim, e até
agora ninguém sabe se a Abin tem
mesmo a tal maletinha.
A barafunda embaralhou a cabeça dos palacianos. Enquanto uns
garantiam que o general Felix, chefe da Abin, estava na berlinda, outros diziam que Jobim falou demais, sem conhecimento de causa,
e pode ter levado o presidente a cometer uma injustiça com Lacerda.
Enquanto a balbúrdia reinava
por aqui, o presidente Lula se mandou por aí. Foi se lambuzar no pré-sal e subir em palanques país afora.
Diríamos que foi fazer o que mais
gosta. E deixou de lado aquilo que
odeia, gerenciar crises.
Só que a do grampo ainda circula
por aí, espalhando fantasmas de novas gravações. Por mais que Lula
prefira se deliciar com as benesses
de sua alta popularidade, bem que
poderia dedicar algumas horinhas
para que essa novela não tenha o
mesmo fim de outras em seu governo: ficar sem final.
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