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SERGIO COSTA
Tem macumba no grampo
RIO DE JANEIRO - O pessoal que
trabalha com grampos -digamos-
não-autorizados está impressionado como a turma do andar de cima
no Rio é chegada à macumba. Nas
horas e mais horas de abobrinhas
colaterais captadas em campanas
auditivas, o assunto mais recorrente são "trabalhos" feitos e desfeitos
contra desafetos ou para trazer de
volta a pessoa amada. Rico sofre.
Quando os arapongas vigiam os
telefones de um -digamos de novo- banqueiro em endereço chique
da zona sul, todo o prédio acaba
grampeado. E aí o que mais se ouve,
em vez de tenebrosas transações,
são inquietações com "despachos"
e "mau-olhado". Os bacanas freqüentam mais terreiros do que calcula o IBGE. Alguns têm até "personal" pai-de-santo. A arapongagem
se diverte nas horas vagas ouvindo
as gravações indiscretas da elite. Viraram uma espécie de paparazzi
das linhas cruzadas.
Joga-se para a torcida com essa
discussão "oficial" sobre grampos.
Pura hipocrisia. Há anos as polícias
de todos os níveis grampeiam Deus
e todo o mundo -legal e ilegalmente. Há fartura de escutas privadas.
Não faltam no mercado aparelhos
de espionagem para qualquer fim.
Paredes têm ouvidos, sim.
Privacidade acabou. Quanto mais
tecnologia, menos possibilidades
de se guardar um segredo -seja
pessoal [como as macumbas de
amor da burguesia de Ipanema],
profissional, político ou criminoso.
Os recursos que fascinam os consumidores voltam-se contra eles mesmos. Teleconferências, "siga-me",
chamadas em espera abrem janelas
para abelhudos em algum ponto da
linha. Ouvem-se coisas.
Nada resiste a um grampo: casamentos, sociedades, negócios ou
alianças políticas. Portanto, cuidado: tudo o que disser ao telefone poderá ser usado contra você. E depois não vai adiantar se explicar.
sergioqc@uol.com.br
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