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VALDO CRUZ
Intrigas e convicções
BRASÍLIA - O governo Lula demonstra um apego surpreendente à política monetária restritiva. Mantém sua
profissão de fé nessa política austera
mesmo debaixo de um fogo cruzado
cada vez mais intenso.
A pergunta que muita gente se faz é
de onde vem tamanha convicção
num caminho tão execrado no passado pelo PT. Uma política que está
parando a economia do país.
Ouvindo petistas que participam
ou convivem com a cúpula do governo, a posição é unânime: uma disparada da inflação seria o fim do governo Lula, acabaria com sua credibilidade logo no seu primeiro ano.
Exagero ou não, esse argumento é
repetido à exaustão. A alta da inflação agravaria uma crise que eles estavam assumindo. Aí, antes da posse,
o lema adotado internamente foi
"vamos governar a crise para que a
crise não nos governe".
Segundo a cúpula do governo, é
preciso ter sangue-frio neste início de
mandato. Fazer todo o mal necessário agora, de uma vez, quando o capital político de Lula é alto o suficiente para resistir às pressões.
O presidente e sua equipe direta
avaliam, porém, que o clima poderia
estar melhor. Bastaria que alguns
ministros, principalmente os da área
social, estivessem operando com mais
agilidade e competência.
Na lista estão gente como José Graziano (Fome Zero), Olívio Dutra (Cidades), Anderson Adauto (Transportes) e Carlos Lessa (BNDES). O último é visto como um grande erro.
Esse tipo de reclamação não é novidade, mas esquentou nos últimos
dias, principalmente no Ministério
da Fazenda, alvo das críticas contra
a política dos juros altos.
A maioria se defende dizendo que a
Fazenda deixou-os à míngua. A reação da equipe de Palocci é que eles
podem ter pouco, mas nem isso estão
conseguindo gastar.
O tiroteio interno ainda não é grave, mas já está gerando intrigas entre
antigos companheiros e uma lista de
cotados para uma degola ministerial.
Por falar nela, há quem se lamente de
uma coisa: vice não é demissível.
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