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CLÓVIS ROSSI
De "denuncismo" e espelhos
SÃO PAULO - Que há "denuncismo", não é preciso ser gênio para descobrir. Mas o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é uma das últimas pessoas no Brasil com autoridade moral
para criticá-lo.
Basta lembrar um só dos muitos
"denuncismos" dele próprio: a afirmação de que o Congresso Nacional
abrigava "300 picaretas".
Trata-se de um clássico do "denuncismo" em três aspectos:
1 - Em vez de "investigar e apurar",
como pede agora o mesmo Lula, ele
lançou a acusação sem investigação
alguma, sem prova alguma.
2 - Não deu nomes, com o que estendeu a suspeição a todos os parlamentares, mesmo aos que ele próprio
deveria considerar inocentes.
3 - Usou um conceito que é muito
popular (a crítica aos políticos), com
o que se travestia de voz do povo ante
os poderosos.
A denúncia do "denuncismo" na
boca de Lula incorre em uma segunda inconsistência, ao menos ao atribuir às "manchetes de jornais" o
"massacre" de "pessoas".
A manchete desta Folha, ontem,
tratava da quebra do sigilo fiscal de
banqueiros e executivos de entidades
financeiras (29 no total).
Quem determinou a quebra do sigilo fiscal deles todos não foi a Folha ou
qualquer outro jornal, mas o relator
de uma CPI, aliás deputado (José
Mentor) que pertence ao partido do
presidente. Mais: apesar de se tratar
de assunto de maior gravidade, o deputado não tinha na memória as razões pelas quais solicitara tão dura
providência.
Há, portanto, um fato real, gerado
por uma respeitável instituição republicana. Se é fato, não é "denuncismo", por definição. Não divulgar o
fato é que seria crime de lesa-leitor.
Causa problemas para os atingidos?
Causa, claro. Mas o problema foi
criado pela determinação da CPI. A
manchete do jornal é o espelho. Quebrá-lo não mudaria a realidade que
o espelho mostra.
O diabo é que todo governo, inclusive o do PT, gosta de quebrar espelhos
em vez de tratar de modificar a realidade que eles mostram.
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