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ELIANE CANTANHÊDE
A ordem é resistir
BRASÍLIA - Contas, apartamentos, doleiros, sonegação fiscal, todo esse
amontoado de suspeitas que recaiu
sobre Henrique Meirelles, do BC, e/ou
Cássio Casseb, do BB.
A primeira conclusão é que o PT está provando do seu próprio veneno
denuncista. Antes, o PT acusava, enquanto o governo de plantão estrebuchava atribuindo a culpa a "interesses políticos". Agora, os adversários
do PT acusam, enquanto o governo
Lula atribuiu tudo ao "ano eleitoral".
Há apenas uma diferença: no governo FHC, o réu (ou vítima) caía, todos perdiam alguns degraus da confiança pública e ia-se tocando em
frente. No governo Lula, a ordem é
resistir. Ninguém vai para a rua, a
não ser Waldomiro Diniz -que foi,
porque mantê-lo já seria demais.
A lista de quedas tucanas foi longa.
Misturando-se alhos com bugalhos, o
embaixador Júlio César Santos,
Eduardo Jorge, Mendonça de Barros,
André Lara Resende, Elcio Álvares.
Uns foram afastados, outros não suportaram a pressão.
Sem entrar no mérito de quem é ou
não culpado do quê, a lista de Lula é
a dos que ficam, como José Dirceu
(chefe direto de Waldomiro), Meirel-
les, Casseb e Henrique Pizzolato, diretor de Marketing do BB, acusado
de dar um jeitinho para ajudar a financiar a nova sede do PT.
O atual governo tinha de demitir
Meirelles e Casseb ou o PT deveria
pedir desculpas para Eduardo Jorge e
Mendonça de Barros. Nenhuma denúncia foi pior do que a outra. E ninguém é melhor do que ninguém.
Pode estar ocorrendo uma espécie
de ajuste entre o que é improbidade,
ilegalidade, e o que é feio, mas não
suficiente para demitir. E um ajuste
entre o denuncismo que convinha ao
PT e o que não convém ao governo
do PT. O parâmetro de moralidade
que o PT criou antes era alto, mais do
que seu governo sustenta agora.
Por isso se sonha com a "lei da mordaça" e só agora se cria um conselho
para "fiscalizar" jornalistas. As duas
iniciativas têm o óbvio objetivo de esconder as denúncias -que fizeram a
festa do PT na oposição e geram pânico no PT no governo.
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