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EDITORIAIS
A BOLHA AMERICANA
Aconteceu primeiro com o
Japão e, mais recentemente,
ganham intensidade os temores de
que venha a ocorrer também nos Estados Unidos. Nem catástrofe nem
superação da crise financeira, o que
pode estar em curso é um longo período de crescimento econômico
muito baixo, insensível às medidas
de política econômica.
As evidências são a cada dia mais
preocupantes. A maior economia do
planeta cresceu em excesso, movida
pela especulação financeira.
Um ajuste muito rápido e intenso
produziria uma crise de proporções
inéditas. É portanto um ótimo sinal
que isso não ocorra agora.
A alternativa que se cristaliza, no
entanto, deixa pouco espaço para visões otimistas. O ajuste depois da
exuberância, algo irreversível, ocorre
lentamente. Como houve muitos excessos, o tempo necessário para essa
cura mais lenta é inevitavelmente
longo, com altos e baixos.
Houve nos EUA excesso de endividamento, de famílias e de empresas
com relação à riqueza nacional.
Houve excesso de valorização de
ações nas Bolsas de Valores. Finalmente, teria havido excesso de investimento em capacidade produtiva.
Desde o momento de auge de valorização da Nasdaq (Bolsa que concentra as ações de empresas de alta
tecnologia), em março de 2000, as
perdas acumuladas pelos investidores passam de US$ 7 trilhões.
O efeito depressivo sobre o ânimo
de empresários e banqueiros é evidente, criando um círculo vicioso em
que a aversão ao risco deprime ainda
mais os mercados financeiros. As irregularidades na contabilidade de algumas das principais corporações
norte-americanas tornam o cenário
ainda mais preocupante.
O Japão, que também evitou uma
crise mais violenta de sua economia,
patina há mais de uma década num
processo semelhante de saneamento
dos excessos da especulação financeira. A purgação dos balanços bancários prossegue.
Na União Européia, os indicadores
de fragilidade também ganham peso, em especial na economia alemã,
seu principal centro industrial.
A fragilidade dos EUA produz um
dólar fraco diante do euro, tornando
ainda mais difícil o mercado para as
exportações européias.
Japão e UE, no entanto, desempenham papel secundário no desenho
dos rumos da economia mundial.
Os dois sistemas são relativamente
mais fechados se comparados às
oportunidades criadas nos mercados norte-americanos às exportações de todo o mundo.
A desaceleração nos EUA, portanto, pesa mais no quadro global que
as oscilações dos mercados europeus e asiáticos. Esses, aliás, dependem muito do consumidor e do empresário norte-americano. São portanto inevitavelmente contagiados
pela desinflação da bolha americana.
É cedo para dizer que os EUA ou
mesmo o sistema global rumam para uma depressão. O consumidor
norte-americano, que responde por
dois terços do PIB do país, ainda vai
às compras, animado pelos juros
baixos e pelas promoções.
Quase tão preocupante quanto
uma recessão, no entanto, é a hipótese de uma longa era de crescimento
baixo, em que os EUA e a UE sigam o
roteiro que hoje sacrifica os órfãos da
bolha especulativa japonesa.
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