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CLÓVIS ROSSI
A normalização dos ogros
SÃO PAULO - O grupo Merrill Lynch, portento norte-americano da área de
investimentos, acaba de produzir um
dos poucos relatórios em que os candidatos de oposição à eleição presidencial brasileira são tratados como
gente mais ou menos normal, capaz
de comer com garfo e faca, não urinar no tapete e entender que a lavanda não é para beber.
Até agora, a maioria dos analistas
de mercado parecia considerar Luiz
Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes
(para não mencionar Anthony Garotinho, excluído da análise da Merrill
Lynch) dois ogros incapazes de achar
o banheiro do Palácio do Planalto se
um deles for eleito.
Não, não pense o leitor que o mercado (ou ao menos a Merrill Lynch)
já apóia ou Lula ou Ciro. José Serra
continua sendo visto como o presidente que daria as melhores respostas a uma situação de crise como a
que a consultoria norte-americana
prevê para o início do próximo governo (melhores, claro, dentro da perspectiva do mercado).
Mas o texto divulgado no dia 2 e assinado por três de seus economistas
admite que é "improvável" que qualquer dos candidatos dê respostas heterodoxas ante a crise.
O problema viria depois: "O risco
surgiria principalmente de potenciais
desvios de política se a crise não for
contida pelas respostas políticas iniciais", diz a análise.
Convenhamos que, nessas circunstâncias, puxar a brasa para a sardinha de Serra é forçar a barra. Qualquer presidente (inclusive o atual,
que o mercado adora) desvia-se do
caminho se a crise continuar mesmo
depois de uma resposta convencional
(vide a desvalorização forçada do
real em 1999, depois que o pacote do
FMI -a resposta convencional- revelou-se insuficiente).
Mesmo com esses senões, o texto da
Merrill Lynch tem o seu lado positivo:
o próximo presidente assumirá em
condições tão difíceis que tudo o que
ele e o país dispensam é o terrorismo
dos mercados.
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