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ELIANE CANTANHÊDE
Festa de arromba
BRASÍLIA - O governo George W. Bush comemora o primeiro ano do 11
de setembro, nesta semana, com a
perspectiva imediata de uma invasão
do Iraque. Uma festa inesquecível
para a humanidade.
Os EUA, o mundo e a própria família Bush estão divididos, mas isso não
é nada diante do ímpeto dominador
de Bush, o presidente errado, na hora
errada, da maior potência política,
econômica e militar do planeta.
Bush saiu da defesa e partiu para o
ataque, que pode levar o mundo para
uma instabilidade aterrorizante. O
Iraque não é exatamente o acuado
Kosovo nem o miserável e absurdo
Afeganistão. Assim como Saddam
Hussein não é o napoleônico Slobodan Milosevic nem o maluco Osama
bin Laden. O Iraque é um país rico,
ideológico, sob reais suspeitas de ter
armas biológicas. E Saddam é um radical capaz de tudo, até de usá-las.
Ainda bem que o Congresso dos
EUA reluta em dar autorização para
a guerra que Bush doentiamente
quer e que França, Rússia e China
(do Conselho de Segurança da ONU)
deixaram clara a sua discordância. E
ainda bem que George Bush, o pai,
acha que o filho anda extrapolando.
O que surpreende são as "relações
carnais" entre Reino Unido e Estados
Unidos. Quando a Argentina de Menem adotou um lema tão promíscuo
e politicamente repugnante, a gente
até entendeu. No caso do Reino Unido de Tony Blair, é inaceitável.
Chegamos todos ao primeiro ano
do 11 de setembro e às vésperas da
eleição presidencial brasileira sob a
ameaça de um mundo não só economicamente injusto como politicamente caótico. Vamos ver, agora,
dois testes fundamentais: 1) se a ONU
ainda serve para alguma coisa ou se
não passa de apêndice dos EUA; 2) se
os candidatos à Presidência do Brasil
vão descobrir, em algum momento,
que, mais importante do que os ataques entre um e outro, é o ataque inglês e norte-americano -que já começou- ao Oriente Médio.
Já passou da hora de a crise internacional entrar na agenda nacional.
Antes que, entre mortos e feridos, não
se salve ninguém.
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