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CARLOS HEITOR CONY
Há alguma coisa no ar
RIO DE JANEIRO - Se você está sentado num avião, indo de algum lugar
para outro, não leia esta crônica. Ela
está sendo escrita por um sujeito solidamente fincado numa cadeira,
diante de um notebook simples, mas
honesto, que não me dá a temperatura lá fora, a altitude, a umidade relativa do ar e a distância que falta percorrer até chegar à terra firme.
Justamente por isso, pela solidez
efêmera de minha circunstância,
lembro que a situação das empresas
que exploram o nosso espaço continua problemática. No mês passado,
publiquei aqui mesmo um texto sobre o assunto, e o meu amigo Marcos
Vinicius Vilaça, que muito viaja pelo
Brasil e pelo mundo, ficou apavorado, com ímpetos de pedir o boné e de
dar o fora do avião, não o fazendo
porque, primeiro, é homem corajoso,
segundo, o avião estava a 10 mil metros de altura.
A verdade é que as notícias que surgem no setor não tranquilizam a
gente. Déficits escabrosos, atrasos no
pagamento de funcionários e de fornecedores, brigas internas na cúpula
e desânimo no baixo clero das companhias -tudo isso causa inquietação a quem é obrigado a se utilizar
daquilo que a turma entendida chama de "aeronave".
Na semana passada, num mesmo
dia, três dessas aeronaves tiveram
problemas -numa delas morreram
mais de 20 pessoas. Sabemos que o
transporte aéreo é o mais seguro de
todos, mas o estado confuso da contabilidade das nossas empresas deixa
sempre uma suspeita quanto à qualidade da manutenção dos vôos. Nos
Estados Unidos, o governo sempre
ajuda, como na crise provocada pelos
atentados de 11 de setembro.
Um parafuso solto pode causar um
desastre, um abastecimento irregular
obriga a um pouso de emergência.
Há um funcionário que tira um
grampo do trem de aterrissagem na
hora da decolagem. Mostra ao piloto
que tirou o grampo, preso a uma fita
colorida. Se o cara tem uma fita sobressalente no bolso, pode criar uma
baita confusão.
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