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CLÓVIS ROSSI
De Porto Alegre a Brasília
SÃO PAULO - Está sendo lançado na Espanha o que talvez seja o mais completo dossiê sobre as duas reuniões
realizadas até agora pelo Fórum Social Mundial, o conglomerado que se
reúne em Porto Alegre como contraponto ao Fórum de Davos.
O autor, o sociólogo Rafael Díaz-Salazar, diz que as alternativas propostas em Porto Alegre e recolhidas no livro têm tudo, "de programas a orçamento e energia militante". Só faltaria uma coisa: "Políticos à altura das
circunstâncias", segundo o jornal "El
País", na quinta-feira.
Gostaria de ter ido ao lançamento,
não só porque a Espanha é meu país
preferido (ao menos no momento),
mas principalmente para perguntar a
Díaz-Salazar se ele inclui Luiz Inácio
Lula da Silva entre os políticos que, na
sua opinião, não estão à altura das
circunstâncias.
Talvez seja cedo para um julgamento tão severo. Mas o fato é que a maior
parte do que Lula e o PT disseram nos
meses finais da campanha eleitoral e,
principalmente, depois da vitória, tem
pouca semelhança com o que se disse
em Porto Alegre nos dois encontros lá
realizados.
Não me venham os fundamentalistas do PT dizer que o "Fome Zero" é
Porto Alegre puro, porque sabem que
não é. Lula fala de sua obsessão com a
necessidade de o brasileiro ter o direito de três refeições diárias desde a primeira campanha presidencial, em
1989, e o Fórum Social foi inventado
em 2001.
A nova ênfase do PT, ao contrário,
tem sido naquilo que Porto Alegre
mais critica: o respeito a regras que favorecem o capital em detrimento do
social.
A frase de Díaz-Salazar serve também para dar contexto adequado ao
verdadeiro desafio de Lula: o líder do
PT não foi eleito para aplacar os mercados, mas para criar, no Brasil, o
"outro mundo é possível" com que sonha o povo de Porto Alegre.
Vencerá o desafio se o sociólogo espanhol não repetir sua frase dentro de
um ano ou dois ou três.
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