São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Fannie, Freddie e o Corinthians

SÃO PAULO - Uma de minhas chefes mais brilhantes (Claudia Antunes, editora de Mundo) pinçou de livro do historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira sobre o golpe no Chile, em 1973, uma frase de Henry Kissinger, então secretário norte-americano de Estado, que, adaptada, poderia servir para a crise financeira dos Estados Unidos 35 anos depois.
Dizia Kissinger que os EUA não poderiam "deixar um país se tornar marxista só porque seu povo é irresponsável". Não deixaram. Puniram povo tão "irresponsável" com apoio e financiamento a um golpe que derivaria em genocídio.
Agora, poder-se-ia dizer que os EUA deixam seu próprio país ser capitalista apesar de certos capitalistas serem irresponsáveis.
No fundo, essa é a origem da crise das empresas de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que acabam de ser estatizadas a um custo de até US$ 200 bilhões (mais ou menos um quinto de toda a economia brasileira).
O jargão econômico criou uma expressão elegante para a irresponsabilidade: "moral hazard", ou risco moral. Elegância à parte, significa o velho hábito do capitalismo de, no aperto, socializar o prejuízo, depois de privatizar o lucro nas boas épocas.
A crise contém uma sigla pouco falada, mas sintomática: GSE. Significa "Government Sponsored Enterprises", grupo a que pertenciam Fannie Mae e Freddie Mac. Mais ou menos como Kia Joorabchian "sponsorizar" o Corinthians, ganhar alguma grana e algum título e depois deixá-lo exangue a ponto de cair para a segunda divisão.
Aí vem o coro de sempre dizer que, como havia risco "sistêmico" (e provavelmente havia), o governo não pode deixar de socorrer as empresas. Mas, como não é o primeiro "risco sistêmico" nem a primeira socialização do prejuízo, o capitalismo já não deveria ter inventado controles mais responsáveis?

crossi@uol.com.br


Texto Anterior: Editoriais: Lotação esgotada

Próximo Texto: Brasília - Melchiades Filho: Alto lá, Lulalá!
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.