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CLÓVIS ROSSI
Fannie, Freddie e o Corinthians
SÃO PAULO - Uma de minhas
chefes mais brilhantes (Claudia Antunes, editora de Mundo) pinçou
de livro do historiador Luiz Alberto
Moniz Bandeira sobre o golpe no
Chile, em 1973, uma frase de Henry
Kissinger, então secretário norte-americano de Estado, que, adaptada, poderia servir para a crise financeira dos Estados Unidos 35
anos depois.
Dizia Kissinger que os EUA não
poderiam "deixar um país se tornar
marxista só porque seu povo é irresponsável". Não deixaram. Puniram povo tão "irresponsável" com
apoio e financiamento a um golpe
que derivaria em genocídio.
Agora, poder-se-ia dizer que os
EUA deixam seu próprio país ser
capitalista apesar de certos capitalistas serem irresponsáveis.
No fundo, essa é a origem da crise
das empresas de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que
acabam de ser estatizadas a um
custo de até US$ 200 bilhões (mais
ou menos um quinto de toda a economia brasileira).
O jargão econômico criou uma
expressão elegante para a irresponsabilidade: "moral hazard", ou risco
moral. Elegância à parte, significa
o velho hábito do capitalismo de,
no aperto, socializar o prejuízo, depois de privatizar o lucro nas boas
épocas.
A crise contém uma sigla pouco
falada, mas sintomática: GSE. Significa "Government Sponsored Enterprises", grupo a que pertenciam
Fannie Mae e Freddie Mac. Mais
ou menos como Kia Joorabchian
"sponsorizar" o Corinthians, ganhar alguma grana e algum título e
depois deixá-lo exangue a ponto de
cair para a segunda divisão.
Aí vem o coro de sempre dizer
que, como havia risco "sistêmico"
(e provavelmente havia), o governo
não pode deixar de socorrer as empresas. Mas, como não é o primeiro
"risco sistêmico" nem a primeira
socialização do prejuízo, o capitalismo já não deveria ter inventado
controles mais responsáveis?
crossi@uol.com.br
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