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VINICIUS TORRES FREIRE
Picanha, suor e cerveja
SÃO PAULO - "Picanha, suor e cerveja" é uma utopia nacional-popular.
Churrasquinho, pelada de futebol,
novela, piscina; samba-funk, rap,
suor e cerveja são uma idéia de boa
vida para muito brasileiro.
A cada disparate do presidente, como os da turnê africana, vem a imagem do Lula da Silva de bermudão e
camiseta regata, no pós-pelada,
diante de um braseiro, tomando a
cerveja de que o brasileiro gosta, fraca e pálida. A soneca da tardinha interrompe a leitura do livro, chato, ou
do relatório de duas páginas apenas,
como gosta o presidente.
Mas esnobar o ambiente de pelada
e atribuir disparates, preconceitos e o
metaforismo nacional-populista aos
hábitos populares do presidente é
menos preconceituoso? De resto, Lula
gosta de coisas ótimas, como rabada,
que muita gente "bem" só come em
restaurante "fusion" ou "contemporâneo" ou quando aparece como "coda à la vaccinara" no cardápio.
O problema não é de gosto, mas do
gosto limitado em qualidade e em
variedade, que configura um espírito
tacanho, míope, o que costuma redundar em vulgaridade. No poder,
tal avareza de idéias e sentimentos
torna-se arrivismo, temperado muita
vez pela narcísica indiferença pela
opinião dos eleitores-cidadãos.
A vulgaridade petista não é pior
nem melhor que a tucana (embora
ninguém tenha descido ao nível de
Collor). Os tucanos se acham tão chiques. No poder, catavam o jatinho do
governo para as férias do familião,
para ficar num só exemplo.
À maneira dos inimputáveis, Lula
parece não se amolar com as gafes.
Ministros fazem papelão e, se pressionados, pedem desculpas a contragosto. É o caso da viajante Benedita, de
Graziano, do Fome Zero, que insultou os nordestinos, e da extraordinária empáfia e insensibilidade do ministro da Previdência, que deu uma
pendura em nonagenários.
Dizer que é preciso mais grandeza e
de gente de horizontes mais largos
soa como (e talvez seja) moralismo
pré-sociológico. E, pensando nos indizíveis Bush e Chirac, até que não
estamos tão mal em termos de lideranças. Mas o Brasil é precário demais. Precisa do melhor.
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