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ELIANE CANTANHÊDE
A África é uma África
PRETÓRIA - A África é um continente com milhões de miseráveis, prejudicado por colonizadores insaciáveis,
devastado por sucessivas guerras fratricidas e ameaçado pela Aids.
Mas a África é também um continente muito promissor, deitado em
petróleo, diamante, zinco, alumínio.
Além de ter um povo muito particular, uma rica cultura. A música e o
artesanato estão em toda parte.
Os pragmáticos de antes diziam
que investir na África seria um gesto
puramente humanitário, inútil. Os
neopragmáticos do PT vêem diferentemente: investir energia, diplomacia, política e comércio ali pode ser
um grande negócio. Além de continuar tendo o aspecto humanitário.
Olhar a África e aproximar-se dela
é tentar entender o mundo como
mundo, além das fronteiras da América Latina e acima dos Estados Unidos. É, em outras palavras, estratégico. Ou uma decisão geopolítica.
Visionários como o embaixador
Ítalo Zappa conseguiram ver, ainda
na década de 70, no governo militar,
as similaridades e potencialidades.
Agora é recuperar o tempo perdido.
A política brasileira para a África
passa por um mergulho assistencialista, intensa cooperação científica e
tecnológica e facilidades para o comércio. Mas isso tem contrapartida.
Num mundo unipolar, com os EUA
sentados hegemonicamente no seu
poderio econômico, político e militar,
negociar cara a cara com quem quer
que seja é sempre um risco. Sem negociação conjunta, ninguém vai a lugar nenhum. E a desigualdade entre
regiões, países, Estados e cidades
nunca vai mudar.
Tão ortodoxo na política, na economia e no social, o governo só tem
uma trincheira realmente de esquerda: a política externa. O grito de
guerra de Lula na África ao longo da
semana foi simples: "Pobres do mundo, uni-vos!".
Mas o grito não ficou no ar. Foram
mais de 40 acordos em várias áreas, e
há todo um empenho para que papéis não sejam só mais papéis. E que
a África não seja uma África para
sempre. Até porque o segredo é este: a
África também é aí, no Brasil.
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