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CLÓVIS ROSSI
O adeus às certezas
SÃO PAULO - Para o codificador do "Consenso de Washington", John
Williamson, seu receituário deu tão
certo que até Luiz Inácio Lula da Silva supostamente teria aderido a ele.
"As idéias básicas do que eu tentei
resumir no Consenso de Washington
continuam a ganhar ampla aceitação. Na verdade, me parece que a razão que levou a Lula a se eleger foi a
mudança dele para o centro, endossando essencialmente as políticas sobre as quais estamos falando", afirmou o economista em seminário em
Washington, dia 6, conforme o relato
de Cristiano Romero, correspondente
do jornal "Valor Econômico".
Bobagem. Lula, além de ter sido crítico do "Consenso", elegeu-se pelo desejo de mudanças, não devido à sua
viagem ao centro.
E o que há para mudar é, exatamente, o receituário compilado por
Williamson, com ênfase para privatizações, liberalização da economia,
redução do papel do Estado.
Passemos agora ao que disse Paul
Krugman (Princeton) na bela entrevista que fez Érica Fraga, desta Folha, publicada na sexta-feira:
"As reformas (ditadas pelo "Consenso') foram sobrevalorizadas.
Acredito que os países da América
Latina, pela forma como as propostas foram vendidas, acharam que receberiam um pacote completo, do tipo: "nós receberemos dinheiro, vamos abrir nossos mercados e tudo
vai ser maravilhoso"."
Não foi bem assim. Se o leitor me
permite umas linhas de cabotinismo,
o que Krugman está dizendo foi repetido à exaustão na quase solidão
deste espaço, durante a década de
forte hegemonia do pensamento único cristalizado no "Consenso".
O diabo é que Krugman admite
não ter "uma resposta fácil" para curar a frustração provocada pela implementação do "Consenso".
É por isso que sobra espaço para
Williamson achar que a solução é
mais reformas liberais, não menos.
Convidam-se os partidos políticos
brasileiros a entrar nesse debate.
Acabou a era das certezas.
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