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ELIANE CANTANHÊDE
A estrela de Lula
BRASÍLIA - Governo é governo, partido é partido. O PT não pode ser estatizado, e chegou a hora de Lula tirar
a estrelinha vermelha da lapela e governar muito além dela.
Como se faz essa mágica do "cada
um na sua"? Lula já começa a fazer.
Ouve e convive com os interesses de
toda a sociedade, não pode privilegiar o seu partido, os seus governadores, os movimentos sociais e os setores
corporativos em simbiose com o PT.
Quanto ao partido, tem o direito e o
dever de ouvir todas as suas tendências internas, respeitar os "radicais",
hoje em minoria, e se preocupar com
os dois passos seguintes da luta política: as eleições municipais de 2004 e as
gerais de 2006. Serão plebiscitos pró e
anti-Lula, com reflexos diretos no PT.
Em 1994, FHC "alavancou" (com
perdão da má palavra) a eleição do
PSDB nos três principais Estados: São
Paulo, Rio e Minas. Lula elegeu uma
forte bancada na Câmara, mas não
os governos mais importantes. O
PSDB ficou com São Paulo e Minas, e
o PSB de Garotinho, com o Rio. Não é
só isso, mas é como se a sabedoria popular dissesse: "Chegou a hora de testar o Lula, mas é melhor esperar um
pouco para entregar o resto ao PT".
O "resto" estará em jogo nas próximas eleições e depende do desempenho do governo Lula. Mas governos
passam, partidos ficam. E, assim como governos vão além de partidos, o
horizonte do PT vai muito além de
um ou dois mandatos de Lula.
A primeira prova na convivência
PT-governo Lula será a escolha do
presidente da Câmara, que não pode
criar problemas para o presidente da
República nem transformar o Parlamento num apêndice do Planalto.
Difícil é, mas há precedentes mostrando ser possível. E deve ser perseguido. Com pouca margem de manobra para inovar rapidamente na economia, Lula e seu partido têm de ser
reformadores, já, na área social, nos
costumes e... na prática política.
É desse conjunto, e não só de improváveis impactos econômicos, que vai
depender a decisão do eleitor de complementar 2002 dando também os
grandes governos ao PT. Ou não.
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