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CLÓVIS ROSSI
Nas mãos de Deus
BRUXELAS - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de junho
do ano passado:
"Não tem um Congresso Nacional,
não tem um Poder Judiciário -só
Deus será capaz de impedir que a
gente faça este país ocupar o lugar de
destaque que ele nunca deveria ter
deixado de ocupar".
Do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, na quinta-feira passada:
"Que Deus possa ajudar o povo
brasileiro, sobretudo aqueles que estão sofrendo, sobretudo aqueles que
estão desempregados".
Em dez meses, vê-se que o presidente passou da bravata tola à impotência, sempre invocando Deus.
Ou, posto de outra forma, nem é
preciso fazer análises muito profundas nem recorrer aos discursos da
oposição para atestar como, tão rapidamente, o governo Lula passa da
sensação de todo-poderoso à confissão de fracasso, ao admitir que ele
não pode ajudar "o povo brasileiro",
devolvido às mãos de Deus.
Difícil discordar do leitor Jackson
Vitoriano de Ulhoa, que, no "Painel
do Leitor" de ontem, escrevia que Lula "terceirizou a esperança".
Esperança (lembra-se?) que teria
vencido o medo nas eleições de 2002.
Quinze meses depois da posse, o próprio presidente confessa que os brasileiros devem abandonar toda esperança em seu governo e depositar a
expectativa de ajuda em Deus, unicamente em Deus.
Pelo menos o presidente parece ter
esquecido aquele discurso messiânico
em que parecia se colocar como enviado de Deus, capaz de resolver todos problemas da pátria. Passa de
um extremo a outro: vai da certeza
de que o Brasil ocupará o luminoso
lugar na Terra que lhe é devido desde
Pedro Álvares Cabral à certeza de
que ou Deus ajuda o "povo" ou, sempre nas palavras de Lula, "a Páscoa
será mais bem comemorada por uns
do que por outros".
Poderia ter acrescentado: a Páscoa,
as festas juninas, a Independência, a
República, o Natal, o Ano Novo, a
Páscoa de 2005...
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