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ELIANE CANTANHÊDE
A verdadeira bomba
BRASÍLIA - O assunto esfriou, mas não morreu. As insinuações de parte
do governo Bush e da imprensa americana de que o Brasil estaria escondendo algum projeto de bomba atômica ficaram no ar.
Como diz Marco Aurélio Garcia,
assessor internacional de Lula, nenhum setor brasileiro quer brincar de
bomba -nem o governo, nem a oposição, nem os militares, nem a academia, nem a mídia, nem os malucos.
Se há bombas, são de outro tipo. As
dos EUA estão no Iraque, que Bush
invadiu sob o pretexto mentiroso das
tais armas químicas (que nunca apareceram). Os iraquianos estão reagindo. Recuperam cidades, matam
americanos. Quer bomba maior do
que essa -e em ano eleitoral?
E a bomba brasileira não é atômica, pelo contrário. Na década de 70, a
economia brasileira cresceu 8,79% e
a demanda por energia elétrica, 10%.
Na de 80, foram 3,02% contra 8%. Na
de 90, 1,8% contra 5,6%. A energia
nuclear é importante para equilibrar
essa conta e evitar o colapso.
Há 441 usinas nucleares operando
em 32 países, e mais 32 estão em
construção. O Brasil tem duas usinas
(Angra 1 e Angra 2), 35 unidades e
uma 36ª a caminho, em Resende
(RJ). A energia nuclear corresponde a
17% do consumo mundial e a apenas
4,3% no Brasil.
Então, senhor e senhora, por que os
EUA estariam tão preocupados com
a nova unidade de Resende? E por
que a AIEA (a agência internacional
de fiscalização) estaria tão interessada em exigir inspeção visual das centrífugas, em vez de manter a tradicional inspeção a distância?
Há várias possibilidades. Três delas: trauma do terrorismo, aliado ao
medo descabido de uma "escalada
da esquerda" na América do Sul;
"curiosidade" sobre a tecnologia brasileira; disputa comercial, já que o
Brasil atualmente manda enriquecer
urânio fora e sonha ser fornecedor internacional de urânio enriquecido.
Diplomatas, militares e técnicos estão convencidos de que o xis da questão é comercial. Se for, a guerra de
pressões e cobranças está apenas começando. Sem bomba nenhuma.
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