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ELIANE CANTANHÊDE
Autodefesa
BRASÍLIA - Cristalizou-se na cúpula do governo a sensação de que o embaixador José Viegas sai do Ministério da Defesa por uma porta e Aldo
Rebelo entra por outra.
Há, porém, duas considerações: 1)
Lula escolheu pessoalmente Viegas, a
quem conheceu na década de 80, na
embaixada brasileira em Cuba; 2)
Ninguém atribui a Viegas ato ilícito
ou escândalo. Fala-se ora em "falta
de força política", ora em "falta de
autoridade".
Uma conjunção de fatores pesa
contra o ministro. Começa pela pressão dos comandos e da caserna para
aumentar os soldos e iniciar o processo de renovação de aviões, barcos e
armas, tudo caindo aos pedaços.
E continua com o mal-estar pela
contratação sem licitação de um
amigo da FGV para repensar a administração das Forças; a destinação
de caminhonetes novinhas para a
mulher e as filhas; a reforma de uma
casa da Aeronáutica. No Itamaraty,
seriam "peanuts" (amendoins, bobagem). Nos quartéis, questão de "austeridade".
Estava escrito nas quatro estrelas: o
choque de cultura entre militares e
diplomatas. Uns devem ser diretos,
quase rudes. Outros têm de ser sutis,
quase dissimulados. As diferenças estendem-se às esposas. Umas não
aparecem nunca. As outras, quanto
mais aparecem, melhor.
O Planalto discute uma espécie de
pacote: o aumento do soldo em duas
etapas, sendo a primeira até 25 de
agosto, "dia do soldado", e um plano
de reequipamento de longo prazo.
Quanto mais adiante, menos impacto nas contas deste ano. Mas tem
de ser logo. Antes que o deputado
Jair Bolsonaro (porta-voz da reserva
e da direita militar) fique com os louros pelo aumento dos soldos. E ACM,
com os louros pelo reequipamento.
Quanto a Viegas, seu destino está
entrelaçado com o de outros ministros, como Humberto Costa (Saúde).
Mas Lula, além de ser leal aos amigos, tem um outro problema: tirar
um diplomata e botar um deputado
comunista para comandar generais,
almirantes e brigadeiros?
Não seria trocar seis por meia dúzia. Mas um problema por outro.
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