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CAMINHO ERRADO
Há uma fortíssima e justa demanda por soluções na área
da segurança pública no Brasil. As
propostas que surgem, contudo, caminham quase todas no sentido de
prender mais e endurecer as penas
previstas na legislação. É um caminho semelhante ao já trilhado pelos
Estados Unidos nas últimas décadas. Vale a pena, portanto, ver aonde
eles chegaram. A revista "The Economist" traz em sua mais recente edição um balanço do problema.
Os EUA são, de longe, a nação que
mais encarcera. Entre 1925 e 1973,
havia uma proporção mais ou menos constante de 110 presos para cada 100 mil habitantes. Em 2000, essa
taxa havia mais do que quadruplicado, saltando para 478. Se se considerarem também os presos em distritos, o número chega a 700. A título de
comparação, Canadá tem 102, Inglaterra e Gales, 132, França, 85.
Há atualmente 2 milhões de detentos nos EUA. Existem ainda cerca de
4,5 milhões que estão em liberdade
condicional ou tiveram suas sentenças suspensas. A estes acrescenta-se
um contingente de 3 milhões de ex-detentos. Computando-se também
os norte-americanos que foram considerados culpados de algum crime,
mas não foram presos, chega-se a
um resultado impressionante: 7% da
população adulta (12% dos homens)
teve problemas com a lei.
É verdade que ocorrem mais crimes nos EUA do que em outros países industrializados, o que explica
um pouco a taxa de encarceramento.
A outra parte, contudo, se deve ao fato de que os EUA prendem mais do
que países europeus, por exemplo.
O problema fica evidente na forma
como se aborda a questão das drogas. Enquanto nações européias vêm
adotando atitudes mais liberais para
com usuários, os EUA quase decuplicaram a proporção de presos por
delitos relacionados a drogas entre
1980 e 1996. Nesse período, o número saltou de 15 detidos para 100 mil
habitantes para 148.
E, embora as prisões norte-americanas sejam incomensuravelmente
melhores do que as brasileiras, a situação do preso é mais ou menos a
mesma. Quando sai da cadeia, ele
não consegue emprego, o que tenderá a levá-lo a reincidir. Como aqui, é
quase nula a preocupação das autoridades com a reinserção do preso. E
lá, como aqui, há viés racial e de classe na população carcerária.
Com sua política "dura" em relação ao crime em geral e às drogas em
particular, os EUA não só não conseguiram resolver nenhum desses problemas -o que é natural, pois nenhum país conseguiu-, mas também acabaram criando uma nova dificuldade que é a de lidar com uma
população carcerária gigantesca.
A menos que o Brasil queira repetir
os mesmos erros cometidos pelos
Estados Unidos, precisa pensar melhor antes de aplaudir demagógicas
propostas de endurecer penas e
prender mais. O encarceramento é
fundamental para o Direito penal.
Mas precisa ser reservado aos casos
em que o criminoso representa
ameaça física à sociedade.
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