São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

E Monroe estava certo

SÃO PAULO - Informa a jornalista Claudia Mancini, na "Gazeta Mercantil" de quinta-feira:
"A Associação Nacional de Manufaturas (NAM) dos Estados Unidos, a maior do setor no país, prevê que a exportação norte-americana de mercadorias para as Américas Central e do Sul vá passar dos atuais US$ 60 bilhões para US$ 200 bilhões ao ano com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas)".
É mais que razoável supor que boa parte desse aumento nas exportações norte-americanas terá como destino o Brasil -pelo simples fato de ser a maior economia da América Latina (fora o México, que já tem acordo de livre comércio com os EUA e, portanto, não será afetado pela Alca).
O Brasil, ao contrário, perderá US$ 1 bilhão ao ser implantada a Alca, conforme o único estudo abrangente até agora feito -sob encomenda da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
É verdade que Roberto Segatto (Associação Brasileira de Comércio Exterior) diz que não é bem assim. Promete outro estudo, mas, até que ele seja apresentado, não há como discutir com os dados da Fiesp.
Se a Alca fosse apenas comércio, já seria um baita problema a julgar pelos números expostos. Mas a Alca é também tudo o mais que o ser humano pode negociar entre países. Investimento, por exemplo. A prevalecer a regra proposta pelos EUA, qualquer hipótese de política industrial, tal como defendem todos os candidatos, fica irremediavelmente banida.
A pergunta seguinte inescapável é: dá para não prevalecer a posição norte-americana? Em tese dá. Na prática, é quase impensável, quando todos os países do Mercosul, Brasil inclusive, estão pendurados na boa vontade do Tesouro dos EUA, exercida diretamente ou via FMI.
James Monroe, o presidente que reservou "a América para os americanos", no contexto do colonialismo europeu, acertou em cheio. Pena que agora seja o neocolonialismo.



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