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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Ouro municipal
SÃO PAULO - Você lembra em
quem votou para vereador em
2004? Se a resposta é "não", é bem
provável que esteja com a maioria.
A não ser quando escandaliza, e
então é capaz de provocar surtos de
mobilização, a política se tornou
para quase todos uma atividade enfadonha, que atrai gente suspeita e
causa aversão em menor ou maior
grau, diante da qual preferimos ficar distantes, ocupados com coisas
mais sérias ou menos nocivas.
Façamos aqui uma concessão, em
homenagem ao espírito olímpico. A
Folha publicou ontem reportagem
sobre o Centrão Futebol Clube. É
como se autodenomina um volumoso grupo de vereadores paulistanos -20, de vários partidos. Encomendaram até uma charge do "time", em que aparecem sorridentes,
escarnecendo do eleitor otário.
Essa verdadeira seleção de atletas da fisiologia, da qual participa o
presidente da Casa, Antonio Carlos
Rodrigues, abriga quase todos os
vereadores mais ricos. São eles que
articulam o jogo real do Legislativo.
Na sua maioria, esses craques da
maracutaia se valem da política da
clientela para cultivar áreas de influência, feudos urbanos que lhes
asseguram a reeleição. Alguns pertencem a uma espécie de lúmpen
do mundo esportivo-midiático, de
onde extraem os votos. Não há esforço cívico capaz de derrotá-los.
O centrão é um agrupamento que
lembra o PMDB: vazio de idéias e
cheio de apetites, faz valer seu peso
para criar dificuldades e vender facilidades, tanto faz se ao governo de
turno ou aos poderes privados.
Além de arbitrar conflitos e fiscalizar o Executivo (o que não faz), a
Câmara deveria ser um espaço de
discussão qualificada, um laboratório de idéias e propostas para problemas complexos. Que bobinhos...
No lugar disso, o centrão nos oferece um time de várzea como imagem da vereança. Os ecos mais provincianos, o acanhamento moral e
toda a estupidez que essa palavra
-vereança- pode sugerir a alguém
parecem se realizar em sua plenitude no Legislativo da maior cidade
do país através do Centrão F.C.
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