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RUY CASTRO
Longe do mundo
RIO DE JANEIRO - Circula pela
internet uma série de fotos da cantora inglesa Amy Winehouse, tipo
"eu era assim e fiquei assim". A primeira, talvez de 2004, mostra uma
jovem bonita e saudável, quase italiana, com seios generosos palpitando sob o decote, cinturinha no
lugar e boas pernas saindo da minissaia. As fotos seguintes documentam a escalada da sua degradação física.
Nas mais recentes, tiradas nos últimos dois anos, seu aspecto é desesperador. Tatuada de alto a baixo,
imunda, roupa em andrajos, seios
murchos, braços e pernas descarnados, a pele em babados. Na boca,
terríveis falhas dentárias. O rosto,
cravejado de manchas, herpes e
crostas secas, lembra uma máscara
veneziana, como se seu organismo
tentasse sair pelos poros.
Amy precisou de pouco mais de
três anos para chegar ao estado que
Judy Garland levou 30 para atingir.
As drogas de Judy eram birita e
comprimidos. As de Amy são birita,
comprimidos, ecstasy, maconha,
cocaína e crack. Mas suponhamos
que ela só usasse crack. Ele provoca
complicações respiratórias, cardíacas e vasculares, além de degeneração muscular, perda da libido e depressão. Amy já foi diagnosticada
com várias dessas mazelas e pode
morrer de parada respiratória, infarto ou derrame. Até hoje, nenhum
dependente de crack viveu para escrever memórias.
É besteira perder tempo perguntando "por que Amy tenta se destruir dessa forma". Não é obrigatório haver um motivo. Começou no
dia em que, para fazer parte da turma, ela aceitou seu primeiro gole,
tapa ou dose -gostou e continuou
usando. Desde então, não faltou
quem lhe fornecesse.
Uma chance já remota para Amy
seria uma internação mínima de
dois anos numa clínica longe de tudo: da família, dos amigos, da imprensa, do trabalho, do celular e, em
resumo, do mundo.
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