São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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RUY CASTRO

Longe do mundo

RIO DE JANEIRO - Circula pela internet uma série de fotos da cantora inglesa Amy Winehouse, tipo "eu era assim e fiquei assim". A primeira, talvez de 2004, mostra uma jovem bonita e saudável, quase italiana, com seios generosos palpitando sob o decote, cinturinha no lugar e boas pernas saindo da minissaia. As fotos seguintes documentam a escalada da sua degradação física.
Nas mais recentes, tiradas nos últimos dois anos, seu aspecto é desesperador. Tatuada de alto a baixo, imunda, roupa em andrajos, seios murchos, braços e pernas descarnados, a pele em babados. Na boca, terríveis falhas dentárias. O rosto, cravejado de manchas, herpes e crostas secas, lembra uma máscara veneziana, como se seu organismo tentasse sair pelos poros.
Amy precisou de pouco mais de três anos para chegar ao estado que Judy Garland levou 30 para atingir. As drogas de Judy eram birita e comprimidos. As de Amy são birita, comprimidos, ecstasy, maconha, cocaína e crack. Mas suponhamos que ela só usasse crack. Ele provoca complicações respiratórias, cardíacas e vasculares, além de degeneração muscular, perda da libido e depressão. Amy já foi diagnosticada com várias dessas mazelas e pode morrer de parada respiratória, infarto ou derrame. Até hoje, nenhum dependente de crack viveu para escrever memórias.
É besteira perder tempo perguntando "por que Amy tenta se destruir dessa forma". Não é obrigatório haver um motivo. Começou no dia em que, para fazer parte da turma, ela aceitou seu primeiro gole, tapa ou dose -gostou e continuou usando. Desde então, não faltou quem lhe fornecesse.
Uma chance já remota para Amy seria uma internação mínima de dois anos numa clínica longe de tudo: da família, dos amigos, da imprensa, do trabalho, do celular e, em resumo, do mundo.


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