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CLÓVIS ROSSI
Em outro planeta
MADRI - Os pobres da Europa estão
reunidos em Madri, em encontro organizado por uma ONG sintomaticamente chamada "Movimento Quarto Mundo". Reivindicam seu lugar
na próspera Europa.
É claro que, para eles, a vida deve
ser dura, como para qualquer pobre.
Mas, para quem olha com olhos do
verdadeiro "quarto mundo" (ou terceiro, vá lá, para não ferir sensibilidades brasileiras eventualmente aguçadas), chega a ser risível chamá-los
de pobres.
Veja-se o caso do pedreiro espanhol
Antonio Jiménez, relatado ontem pelo jornal "El País". Vive em uma camionete, com mulher e dois filhos de
5 e 3 anos. Por eles, a título de salário-família, ganha o equivalente a uns
US$ 250 (mais de R$ 600).
No Brasil, estaria quase, quase, entrando na classe média. É claro que a
vida na Espanha é algo mais cara do
que no Brasil, mas não tão mais cara
que torne desprezível uma renda de
cerca de R$ 600.
Difere até a maneira de fazer as
contas para dizer quem é pobre e
quem não é. No Brasil, como no resto
do "quarto mundo" (ou terceiro),
usa-se o critério do Banco Mundial:
pobre é quem ganha até US$ 2 por
dia (o "miserável" recebe a metade).
Ou, então, aplica-se a contabilidade
do salário mínimo.
Na Europa, pobre é quem tem renda pelo menos 60% inferior à renda
média. São mais ou menos 60 milhões de pessoas ou 18% da população total. Já é uma porcentagem
comparativamente baixa (no Brasil,
os pobres são quase o dobro, em porcentagem da população).
E se torna ainda mais baixa quando se lembra que a renda média européia é elevadíssima.
Receber, portanto, 40% da renda
média européia pode tornar o cidadão pobre na comparação com seus
pares do continente, mas o faz quase
rico na comparação com os pobres do
mundo em desenvolvimento.
Tudo somado, não se trata de "primeiro X quarto" mundos, mas de
planetas diferentes.
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