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CARLOS HEITOR CONY
Alegorias de Mao
RIO DE JANEIRO - Foi monumental a abertura da Olimpíada de
Pequim, na qual não faltaram as
nossas conhecidas alegorias de
mão, que tanto brilham no Carnaval brasileiro. No entanto, faltaram
as alegorias de Mao. Os milenares
fastos da China passaram por cima
do longo período em que Mao Tsé-tung ameaçava ser maior do que o
país que ele governou com mão de
ferro, coadjuvado por sua mulher,
que também fez das suas na decantada Revolução Cultural, que pretendia mudar não apenas a China
mas o mundo todo.
É bem verdade que a situação daquele país, em termos políticos e de
direitos humanos, continua naquela base, criando uma discussão paralela: o atual e portentoso desenvolvimento da economia chinesa
compensa ou atenua o regime de
força?
A obrigação de um Estado é, antes de mais nada, criar condições de
liberdade para o povo. O progresso
é necessário e bem-vindo, mas o
importante é garantir que o cidadão
seja livre para inclusive se beneficiar do progresso. Certa vez, Mussolini propôs aos italianos: pão ou
canhão. Preferiram o canhão. Deu
no que deu.
Os entendidos estão prevendo
que o século 21 será o século da China. Ela será a única superpotência
mundial nas próximas décadas. Um
neto de 12 anos, que nasceu e mora
em Washington, freqüenta uma escola onde, entre outras matérias,
aprende o mandarim -a língua oficial dos chineses. É um sintoma ao
mesmo tempo cultural e pragmático. É bom que as novas gerações se
preparem para o futuro. Não o futuro alegórico de mão ou de Mao, mas
o futuro real, que aponta para a economia e a ditadura do mercado.
De minha parte, já passei da idade
de aprender o mandarim ou qualquer outra coisa de utilidade imediata. Estou mais preocupado em
não esquecer o pouco que aprendi.
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