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CLÓVIS ROSSI
G8 ou "talk show"?
PARIS - Na quarta-feira, no interminável plantão a que os jornalistas
fomos submetidos durante as cúpulas do G8 e do G5, à espera de
fragmentos de informação, eis que
surge na tenda armada ao lado do
Windsor Toya Hotel a leva de fotógrafos franceses que haviam sido levados para a sua "photo opportunity" (texto "opportunity" é mais
rara ainda).
Abrem seus computadores e exibem fotos de Nicolas Sarkozy de
calção e camiseta fazendo seu jogging na mata que circunda o hotel-bunker dos presidentes.
Estivesse menos bêbado de sono,
teria até ficado indignado. Se a noção de "photo opportunity" do governo francês e dos organizadores é
essa, os brasileiros somos incrivelmente sérios e austeros.
Dois dias depois, vejo no "International Herald Tribune", a muito
bem feita edição global do "New
York Times", que fazer jogging não
foi nem mesmo figuradamente a
atividade principal a que se dedicaram os governantes.
Michael Schlesinger, climatologista da Universidade de Illinois, ao
comentar os resultados das cúpulas, disse que o que os governantes
fizeram foi "talk the talk", não
"walk the walk". Em inglês fica melhor porque rima. Traduzido literalmente daria "falaram a fala", mas
não "caminharam o caminho" (menos Sarkozy, claro). Em português:
um colossal blablablá.
Nenhuma surpresa, aliás. Salvo
nos anos 70, quando uma ou outra
cúpula do G8 resultou em ações para reequilibrar o câmbio entre o dólar e as moedas de seus sócios no
clubão (então de apenas sete países), não há outro resultado palpável do "talk show".
Aliás, "talk shows" são mais produtivos porque exibidos ao público.
O dos governantes fica em circuito
fechado. No máximo, alguns deles
contam a jornalistas de seus países
o que disseram. Mas não contam a
reação dos outros. Fica tudo muito
pobre.
crossi@uol.com.br
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