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CARLOS HEITOR CONY
O banqueiro tranqüilo
RIO DE JANEIRO - Perdoem a insistência: mas na recente embrulhada policial-jurídica, envolvendo
duas importantes instituições do
Estado (Executivo e Judiciário), o
que mais me espantou foi a certeza
de Daniel Dantas ao se declarar
"tranqüilo" quanto ao Supremo
Tribunal Federal, do qual nada temeria.
Para amaciar a pressão do Executivo, exercida pela Polícia Federal, o
banqueiro usaria o recurso banal do
suborno, seria uma questão de preço. Deu azar. A autoridade em questão botou a boca no trombone, fornecendo o motivo legal para a segunda prisão de Dantas, comprovadamente interessado em prejudicar
as investigações.
Até aí, tudo nos conformes do cão
e do gato, polícia contra crime ou
crime contra polícia. O assombro ficou por conta da confiança que
Dantas demonstrou em relação ao
Supremo -confiança que foi confirmada com o habeas corpus concedido a ele e a seu grupo pelo ministro Gilmar Mendes.
Não é conhecida a sapiência do
banqueiro em questões jurídicas
que poderiam dar apoio à sua tranqüilidade. Ao contrário da tentativa
com o delegado da PF, a intenção de
subornar a mais alta corte de Justiça do país seria uma alucinação,
manifestação patológica que não se
espera de um executivo do porte de
Dantas.
Para se entender a tranqüilidade
do banqueiro é preciso relembrar
atos e fatos do passado, notadamente do governo de FHC, quando
duas questões, entre outras, deixaram buracos negros na acidentada
sucessão de escândalos de nossa vida pública. As privatizações, de um
lado, e a compra de votos para o segundo mandato de FHC foram abafadas pela presteza da Advocacia-Geral da União. À margem disso tudo, o dinheiro que lubrificou o mensalão, escândalo até agora inconcluso, já em tempos do PT.
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