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DO CENTRO À ESQUERDA
A chamada "mensagem das
urnas", em termos do redesenho do mapa político-partidário do
país, obviamente só poderá ser examinada com exatidão depois de 27
de outubro. Mas, a julgar pelos resultados já consolidados para o Legislativo, pelos Estados em que o governador foi eleito no domingo passado
e pelos candidatos que se qualificaram para o segundo turno, seja nas
disputas regionais, seja na presidencial, há um inegável avanço das forças de oposição, ou de centro-esquerda, na política brasileira.
A rodada decisiva para o Planalto é
uma síntese desses resultados. O esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva,
do PT, foi o candidato mais votado
no Distrito Federal e em 23 dos 26 Estados. O segundo colocado, José Serra, do PSDB, representa, ele próprio,
uma oscilação à esquerda no seio da
aliança de Fernando Henrique Cardoso: Serra foi um opositor interno
da política econômica, é considerado mais "intervencionista" por seus
críticos ortodoxos e, diferentemente
de FHC, sua aliança de primeiro turno não contou com o PFL, legenda
situada mais à direita.
Dos 13 Estados que definiram o governador no domingo, em sete venceu uma legenda de esquerda e em
três prevaleceu um partido de centro.
Dos 28 candidatos a governador qualificados para o turno final, 11 são filiados a partidos de esquerda e 11 a
agremiações de centro. Haverá sete
disputas envolvendo uma legenda de
esquerda e uma de centro -quatro
delas serão entre o PT e o PSDB.
No Legislativo também se nota
uma nova "onda" política. Nas Assembléias Legislativas dos cinco
maiores colégios eleitorais (SP, MG,
RJ, BA e RS), que agregam 56% do
eleitorado nacional, os petistas conquistaram 19% de todas as cadeiras,
convertendo-se na maior bancada
em São Paulo, Minas e Rio Grande
do Sul. Na representação federal, o
PT também avançou, tornando-se,
com 91 deputados eleitos, a maior
bancada da Câmara e a terceira força
do Senado, com 14 parlamentares.
Os principais "perdedores", aqui, foram PSDB, PMDB e PFL, que compuseram o núcleo da aliança de FHC.
O avanço do oposicionismo centro-esquerdista, no entanto, não significa que essas forças passaram a
dominar o cenário político-partidário do país. A taxa de crescimento
desses partidos parece ter sido capaz
de atenuar -ou até de desfazer, a depender do resultado das eleições presidenciais- a hegemonia anterior,
que pode ser ilustrada pela aliança
centro-direitista que elegeu e sustentou FHC. Mas não foi suficiente para
estabelecer uma nova dominância.
Note-se, a esse respeito, que Serra e
o PSDB obtiveram alguns de seus
melhores resultados eleitorais justamente em Estados ou cidades administradas pelo PT. Na cidade de São
Paulo, o presidenciável tucano atingiu 30% dos votos válidos -contra
sua média nacional de 23%. O Rio
Grande do Sul foi o Estado em que
Serra conquistou a sua segunda
maior votação relativa, 32%. Os gaúchos e os sul-mato-grossenses decidiram não conceder mais quatro
anos de governo local ao PT já no primeiro turno. Nos dois Estados haverá eleição para governador em 27 de
outubro e, em ambos, o candidato
petista corre risco de ser derrotado.
O ambiente político-partidário do
país, portanto, se tornou mais pluralista depois das eleições de domingo.
Nesse contexto, conquistar maiorias
-seja no Congresso, seja nos Estados, seja na sociedade de modo geral- ficou necessariamente mais difícil, vença Lula ou ganhe Serra. Como a deterioração do quadro financeiro certamente vai exigir respostas
urgentes do próximo presidente, serão necessários muita arte e muito
engenho para que o sucessor de
FHC, entre a emergência econômica
e a complexidade política, consiga
realizar um bom governo.
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