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ELIANE CANTANHÊDE
No coração do poder
BRASÍLIA - Foi numa sexta-feira, 13.
E foi justamente no coração do poder
a maior denúncia contra o governo
do PT. Aconteceu cedo demais, mal
completado o primeiro ano. Pode
passar rápido, mas deixa marcas.
Waldomiro Diniz foi pego de jeito.
Acertava grana de campanha para o
PT com bicheiros. Muito ruim. Pegava algum por fora para ele próprio.
Pior ainda. Intermediava negociatas
do pessoal do bicho com o pessoal dos
telebingos. Péssimo.
Waldomiro poderia ser só Waldomiro. Mas não é o caso. Ele é amigo,
apadrinhado e chefiado do nada menos que o chefe da Casa Civil, o poderoso (nunca é demais lembrar) José
Dirceu. Digamos que é o braço direito de Dirceu, que é o braço direito do
presidente da República.
Interessante a data do escândalo,
anunciado pela revista "Época":
além de sexta-feira, 13, foi no dia da
festança pelos 24 anos do PT no Rio e
às vésperas do Carnaval. O governo
está de ressaca, antes mesmo da folia.
O estrago está feito, e bem feito. Bateu no Palácio do Planalto, no segundo homem mais importante da hierarquia do poder e um andar acima
do gabinete do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Mas isso não é tudo.
Resta saber o que ainda vem por aí.
Um detalhe muito comentado foi a
câmera fixa em Waldomiro e numa
tal bolsa branca que ele recebeu de
um bicheiro no aeroporto de Brasília.
Tais câmeras de segurança costumam ser fixas. Por que aquela tinha
um alvo fixo? E no meio de uma campanha eleitoral? Está aí o indício de
que a inteligência no governo FHC já
estava de olho no camarada. Pode tê-lo investigado durante meses e, portanto, ter muita coisa ainda para infernizar a vida petista.
Esperava-se tudo do governo PT:
autoritarismo, aparelhamento, rolo
compressor. Mas corrupção? O PT,
logo o PT, contribui para o estigma
de que "todos são iguais". E deixa
uma triste dúvida: não seria melhor
continuar na oposição, mantendo
crenças e esperanças de milhões?
"Ah, que saudade da oposição!", dizem eles. "Ah, que saudade do PT na
oposição", concordamos todos.
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