|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A máquina azeitada
RIO DE JANEIRO - Não há como discordar das últimas declarações do
presidente da República. Começam
por serem antigas, dos tempos de sua
liderança sindical, ampliadas à
exaustão pelos seus seguidores dentro
ou fora do PT. "Montou-se uma bem
azeitada máquina de produzir desequilíbrios". "A única razão pela qual
ainda há gente passando fome é o desacerto histórico da distribuição de
renda".
Perfeito. Ele sempre disse isso. Esse
mesmo diagnóstico foi anunciado na
carta de Pero Vaz Caminha. Acontece que Caminha não chegou ao poder, não foi eleito por 54 milhões de
brasileiros para botar areia na azeitada máquina de produzir desequilíbrios.
Pelo contrário. Com a política econômica que Lula adotou, dia a dia
coloca mais azeite na máquina,
abastecido pelos excelentes óleos lubrificantes do neoliberalismo globalizado.
Não se pode cobrar do presidente,
nos 14 meses de governo, a solução de
um problema que vem desde Pero
Vaz Caminha. Mas, bolas, bem que
poderia tentar reverter o "desacerto
histórico" que ele descobriu como razão para o flagelo da fome.
E é justamente aí que a fome, como
a porca, torce o rabo. Há que desmontar essa máquina bem azeitada
com medidas de governo, e não com
apelos à sociedade para descascar o
abacaxi. Sozinha, a sociedade nunca
fará uma reforma agrária que desmonte não apenas a máquina que
produz fome, mas uma série de danos colaterais que, uns entrosados
com outros, impedem o nosso crescimento econômico e social.
Pior mesmo é que o presidente está
careca de saber isso, há 24 anos repete a mesma lengalenga, eximindo-se
de qualquer culpa por estar sempre
na oposição, fora do poder.
Agora chegou lá, com o apoio compacto do eleitorado. Montou uma base de sustentação no Congresso que
pouquíssimos presidentes tiveram.
Continua com boa margem de popularidade. Se não resolve o problema,
de duas uma: ou não quer ou não
tem competência para isso.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: No coração do poder Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Prioridade universitária Índice
|