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CLÓVIS ROSSI
Fragmentos da angústia
SÃO PAULO - É evidente que correspondência de leitores não é uma
amostra científica do pensamento do
brasileiro, por "ene" razões que não é
o caso de detalhar aqui.
Mas não deixa de ser eloquente a
angústia crescente que impregna e-mails de leitores que, ou são e sempre
foram petistas, ou votaram em Luiz
Inácio Lula da Silva em 2002.
Impressiona também o fato de que
a esmagadora maioria escreve para
concordar com críticas à manutenção do modelo econômico e/ou à inação do governo Lula.
O normal seria o silêncio dos que
concordam com tais críticas, na medida em que estariam devidamente
representados pelo texto publicado, e
a reação dos que discordam, para expor uma visão oposta.
Entre as muitas cartas eletrônicas
de frustração profunda, a do leitor
Manoel Jimenez parece-me tão representativa que a reproduzo abaixo
quase na íntegra:
"Em um determinado momento do
ano passado, durante a campanha
eleitoral, o senhor escreveu que a
grande ameaça para o Brasil não era
a mudança de governo, e sim a continuidade daquele modelo.
O sr. acertou na mosca, e hoje estamos vendo, com exceção dos gênios
do PT, que esse modelo está arruinando este país e deixando os bancos
cada vez mais ricos. Trabalho com o
comércio, viajo por este país de ponta
a ponta e nunca vi nada parecido
com o empobrecimento que está
caindo sobre o Brasil.
Está quase todo mundo desempregado, e quem tem emprego não ganha para comer. Está uma tristeza
esse Brasil.
O Lula fica com essa conversa mole
de que o espetáculo do crescimento
virá logo, mas quantos defuntos ficarão para trás?
Votei nesses caras e mais uma vez
sinto que joguei meu voto no lixo".
Podem até chamar Manoel Jimenez de radical. Não muda a realidade que ele retrata, talvez com exagero, fruto da angústia e da frustração.
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